Descrição de chapéu Folhajus Partido Republicano

Trump vai a Nova York se apresentar à Justiça e prepara circo midiático

Maioria dos americanos concorda com indiciamento, segundo pesquisas, e ex-presidente tenta usar caso a seu favor

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Washington

Donald Trump viajou na tarde desta segunda (3) a Nova York para ouvir a acusação que o transformará no primeiro ex-presidente dos EUA réu por um caso criminal.

O republicano deve passar a noite na Trump Tower e se apresentar na tarde desta terça (4) ao tribunal, "acredite ou não", escreveu ele em sua rede social, a Truth, na qual também disse, em letras maiúsculas, que o processo é uma interferência nas eleições de 2024, às quais já anunciou sua pré-candidatura.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump a caminho do Aeroporto Internacional de Palm Beach, na Flórida
O ex-presidente dos EUA Donald Trump a caminho do Aeroporto Internacional de Palm Beach, na Flórida - Marco Bello/Reuters

Só então deve-se saber de quais crimes Trump é acusado no caso que envolve a compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels durante a eleição de 2016. Ela recebeu US$ 130 mil (R$ 659 mil) de advogados do então candidato para não revelar um suposto affair com ele, e os gastos foram lançados como "despesas jurídicas", no que seria uma maquiagem de gastos de campanha, segundo investigações.

Trump terá suas impressões digitais colhidas, e, até aqui, ainda existe um debate sobre se será preciso tirar uma foto oficial como suspeito. Se ela for feita, porém, não deve ser divulgada oficialmente e só viria a público com um vazamento —desde 2019 Nova York deixou de tornar públicas imagens do tipo.

Legalmente, Trump estará detido e não pode deixar o tribunal até que seja liberado. Mas, como o caso não envolve um episódio de violência, a chance de que ele permaneça preso é praticamente nula. Assim, o republicano deve voltar à Flórida assim que a burocracia for concluída.

O ex-presidente pretende usar o indiciamento a seu favor na corrida à Casa Branca, mas até aqui não há sinais claros se o plano será útil.

Pesquisa da CNN americana divulgada nesta segunda apontou que 60% dos americanos aprovam o indiciamento. Apesar disso, 76% afirmam que a decisão da Justiça teve algum componente político —sendo que, para 52%, a política ocupou um espaço central. Outro levantamento, da ABC News/Ipsos, apontou que 45% dos entrevistados acham que Trump deveria ser condenado pelo caso.

O republicano, porém, vem se gabando de ter virado o caso a seu favor. Na sexta (31), disse que em menos de um dia sua campanha arrecadou US$ 4 milhões (R$ 20,3 milhões) com a "perseguição política sem precedentes" da promotoria de Manhattan, 25% das doações de quem nunca havia contribuído antes. Até esta segunda, o montante subiu para US$ 7 milhões (R$ 35,5 mi), segundo o assessor Jason Miller.

Mas o que Trump quer mesmo com a acusação é adiantar as primárias republicanas e reunir apoio em torno de seu nome, até agora o mais forte da legenda para disputar a Casa Branca. Pesquisa YouGov divulgada na sexta, um dia após o anúncio do indiciamento, mostrou o ex-presidente com 57% das intenções de voto na legenda, bem à frente dos 31% do governador da Flórida, Ron DeSantis.

Trump conseguiu alvejar seu principal rival pelo silêncio inicial em relação ao processo, e o governador correu para corrigir a rota ao condenar a acusação assim que ela foi divulgada, na última semana.

No domingo, a corrida se alargou com o anúncio do ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson de que também vai concorrer. Ex-procurador federal, ele defendeu que Trump deveria se retirar da corrida para se concentrar no processo em Nova York, "pelo bem da Presidência" e para evitar "espetáculo e distração".

A corrida é menos emocionante no jogo aberto, em que concorrem ainda a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley e o empresário Vivek Ramaswamy, do que nos bastidores, com as candidaturas ainda não anunciadas, como as do ex-vice Mike Pence e do ex-secretário de Estado Mike Pompeo, além de DeSantis.

Em público, a Casa Branca tem se afastado da discussão, e o presidente Joe Biden manteve silêncio sobre o caso depois que o indiciamento veio à tona, na última quinta-feira (30).

Mas há temores de protestos, convocados por Trump em rede social ao levantar a possibilidade de ser preso, e o governo americano está em contato com autoridades locais monitorando a situação, disse nesta segunda-feira John Kirby, do Conselho de Segurança Nacional.

Ele afirmou que "protestos pacíficos têm muito valor na democracia", mas "não deve haver violência neste ou em qualquer outro processo legal", afirmou. "Estaremos preparados se houver necessidade."

O prefeito de Nova York, o democrata Eric Adams, afirmou não haver ameaças concretas, desencorajou manifestantes e citou a deputada de ultradireita Marjorie Taylor-Greene, que já anunciou que protestará. Segundo ele, quem cometer atos de violência "será preso e responsabilizado, não importa quem seja".

Biden falou rapidamente a jornalistas nesta segunda que confia na polícia de Nova York e no sistema Judiciário americano.

Se o caso da compra de silêncio da atriz pornô Stormy Daniels é visto como algo menor, outro processo que pode render um indiciamento avança para dar mais dor de cabeça ao ex-presidente.

Reportagem do jornal The Washington Post apontou que o Departamento de Justiça e o FBI reuniram evidências de que Trump praticou obstrução da Justiça na investigação sobre os documentos secretos que ele manteve de maneira irregular em sua casa na Flórida após deixar a Presidência.

Trump também batalha contra o andamento de outro processo, na Geórgia, que pode levá-lo ao banco dos réus, por tentativa de interferência na eleição que perdeu para Biden no estado em 2020.

Nada disso, porém, vai tirá-lo da corrida, já que os EUA não têm uma lei equivalente à da ficha limpa, e candidatos condenados podem concorrer normalmente. A exceção seria um processo ligado ao 6 de Janeiro. A 14ª Emenda impede que envolvidos em insurreição ou rebelião assumam cargos públicos.

O indiciamento de Trump ainda mexeu com a algo combalida direita populista no mundo. Nesta segunda, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, publicou no Twitter uma foto com o republicano e o chamou de presidente. "Continue lutando, senhor presidente! Estamos com você."

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