Zelenski não pode ter tudo, mas Putin não pode ficar com 'terreno da Ucrânia', diz Lula

Em conversa com jornalistas, presidente brasileiro voltou a defender plano de paz com participação ativa da China

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Belo Horizonte

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a Rússia não pode ficar com o território da Ucrânia ocupado durante a invasão no país europeu. Em um café da manhã com jornalistas na quinta-feira (6), o petista voltou a defender as negociações de paz entre as duas nações e a exortar a China a ter um papel ativo nessas conversas.

"O [presidente da Rússia Vladimir] Putin não pode ficar com terreno da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, vai ter que repensar", afirmou. Já "o [presidente da Ucrânia, Volodimir] Zelenski não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer", acrescentou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 6.abr.23/Folhapress

Lula disse ainda que a Otan, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, não vai poder se instalar na fronteira da Rússia. A expansão da organização é um dos principais motivos apontados pelo Kremlin para o início da guerra –meses antes da invasão, as potências ocidentais discutiam uma eventual adesão da Ucrânia à Otan, o que incomodou Moscou.

Recentemente, porém, em sentido inverso do planejado por Putin, a Finlândia confirmou sua adesão à aliança. O movimento mais do que dobrou o tamanho da fronteira russa com países do bloco, e seu cancelamento é bastante improvável.

"Não há nenhuma justificativa para essa guerra continuar. Eu acho que essa guerra já passou da conta. O Brasil defende a integridade territorial de cada nação. Portanto, nós não concordamos com a invasão da Ucrânia. Agora, nós achamos que o mundo desenvolvido, sobretudo a União Europeia e os Estados Unidos, não poderia ter aceitado entrar na guerra da forma como entrou, com rapidez, sem antes gastar muito tempo tentando negociar", afirmou.

Lula deve embarcar para a China na próxima terça (11). Lá, ele se reunirá com o líder chinês, Xi Jinping, e conversará sobre o conflito, entre outras pautas. Desde quando assumiu a Presidência, o petista defende que Pequim intensifique seus esforços pelo fim da guerra.

"Acho que a importância econômica da China, a importância militar da China, a importância política da China e a relação da China com a Rússia –e mesmo a divergência da China com os Estados Unidos– dão à China um potencial extraordinário de conversar", afirmou o brasileiro na quinta.

Xi é próximo de Putin. Os dois se encontraram no final de março em Moscou e reafirmaram a aliança entre os países. Vinte dias antes do início da invasão da Ucrânia, Rússia e China selaram um acordo de "amizade sem limites" em Pequim.

Os europeus também defendem a presença de Pequim nas negociações. Na quinta, os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se reuniram com Xi e pediram ajuda a ele para frear a invasão da Ucrânia. Os dois ouviram do chinês que sua maior prioridade, neste momento, é encorajar um cessar-fogo entre ambos –mas a declaração é vista com desconfiança pelos países que integram a Otan.

Fato é que nem Kiev nem Moscou estão dispostos a ceder. Nesta sexta (7), o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, respondeu às declarações de Lula e disse que seu país não entregará a Crimeia à Rússia. "Não há razão legal, política ou moral que justifique abandonar um só centímetro de território ucraniano", escreveu no Facebook. Ele, no entanto, apreciou "os esforços do presidente brasileiro para encontrar uma maneira de deter a agressão russa".

Paralelamente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse também nesta sexta que negociar a paz na Ucrânia será possível apenas com o estabelecimento de uma "nova ordem mundial". Para o Kremlin, o termo se refere a uma geopolítica livre do domínio dos Estados Unidos e fundada com base nos interesses russos.

Mas, ao menos no café com os jornalistas, Lula estava otimista: "Eu estou convencido de que tanto a Ucrânia quanto a Rússia estão esperando que alguém de fora fale: 'vamos sentar para conversar'."

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