A caminho de Hiroshima para a cúpula do G7, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, negocia bilaterais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o premiê da Índia, Narendra Modi.
A Folha confirmou o contato dele com o governo brasileiro e questionou Lula, na manhã deste sábado (20), horário local, se vai se encontrar com Zelenski. "Não sei", respondeu o presidente brasileiro.
Já o líder indiano estaria acertando uma reunião com o ucraniano para a noite de sábado, segundo jornais indianos.
E o governo japonês confirmou, afinal, ter aceito a solicitação ucraniana depois que "Zelenski expressou seu forte desejo de participar presencialmente". Ele estará em duas reuniões, no domingo, uma com os membros do G7, outra com os membros e os convidados.
A segunda é quando Lula e Modi estarão ao lado do americano Joe Biden e outros na sessão de trabalho "Rumo a um mundo pacífico, estável e próspero". Lula deverá falar em favor das iniciativas de paz para a Ucrânia externas ao G7, lançadas por Brasil, China e agora países africanos, encabeçados pela África do Sul. Modi afirmou ao jornal japonês Nikkei que pretende "amplificar as vozes e preocupações do Sul Global".
Prevista inicialmente para as 10h, no horário local, a sessão foi transferida para as 11h45. Modi e Lula marcaram encontro bilateral para as 10h40, imediatamente antes. Espera-se agora que os dois conversem sobre a guerra antes de entrar para a sessão com os demais.
O objetivo da ida de Zelensky ao G7 seria fortalecer o compromisso do grupo ocidental com a Ucrânia "e assegurar o apoio de Índia e Brasil, não integrantes do G7", segundo o Financial Times, citando fontes anônimas. Segundo o New York Times, várias autoridades afirmaram que a presença de Zelenski tornaria "mais difícil para os líderes de Índia, Brasil e outras nações se manterem relutantes em apoiar a Ucrânia".
Desde o início da guerra, a Índia evitou se afastar do aliado tradicional, até ampliando a compra de petróleo russo, e o Brasil se recusou a enviar munição para Kiev, como proposto pela Alemanha. Tanto Modi como Lula, por outro lado, já conversaram com Zelenski por telefone.
O presidente brasileiro começou a defender uma mediação por paz entre Ucrânia e Rússia ainda na campanha eleitoral, quando foi capa da revista Time e afirmou que, como "ninguém está procurando contribuir para ter paz, é preciso estimular um acordo".
Na mesma entrevista, publicada em maio do ano passado, disse que Zelenski "é tão responsável quanto Putin", que ele poderia ter negociado mais com a Rússia, mas acabou transformando o conflito num espetáculo. Afirmou ainda que "Putin não deveria ter invadido a Ucrânia, mas não é só Putin que é culpado, são culpados os EUA e a União Europeia", por não negarem a entrada da Ucrânia na Otan.
Em janeiro, já presidente, Lula recusou um pedido do premiê alemão, Olaf Scholz, para enviar munição à Ucrânia e lançou diante dele a ideia de "um clube das pessoas que vão querer construir a paz no planeta".
Em fevereiro, à CNN, descreveu a guerra como "um erro histórico" de Putin. No início de abril, em entrevista coletiva, disse que "Putin não pode ficar com terreno da Ucrânia", mas "talvez se discuta a Crimeia", península anexada por Moscou em 2014. E acrescentou que Zelenski "não pode ter tudo o quer".
Em seguida veio a declaração que causou maior reação, no final de abril, ao encerrar sua visita a Pequim, quando disse ser necessário que "os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para a gente convencer o Putin e o Zelenski de que a paz interessa a todo mundo".
A partir daí, o Brasil passou a ser mais pressionado por Washington, com o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca dizendo que ele "papagueia a propaganda russa". Lula então enviou o assessor Celso Amorim a Kiev, para se encontrar com Zelenski e tentar fazer avançar um "clube da paz".
Logo em seguida, o líder chinês ligou para o ucraniano e, nesta semana, enviou representante para falar com Zelenski e avançar algum entendimento. EUA e Europa passaram a dar sinais de apoio à mediação chinesa. Outros atores surgiram, como a África do Sul e, agora, a Arábia Saudita.
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