O jornalista americano Evan Gerchkovitch, do The Wall Street Journal, foi libertado pela Rússia nesta quinta-feira (1º), após passar 16 meses preso no país sob acusação de espionagem. Em julho, ele havia sido condenado a 16 anos de cárcere pelo mesmo crime —ele nega as imputações.
Sua soltura, confirmada pelo próprio Wall Street Journal, ocorreu no contexto de uma das maiores trocas de prisioneiros entre nações desde a Guerra Fria. No total, 26 cidadãos de sete países (EUA, Rússia, Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega e Belarus) foram libertados.
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, descreveu a troca de prisioneiros como um feito diplomático. "Algumas destas mulheres e homens foram detidos injustamente durante anos. Todos suportaram sofrimento e incerteza inimagináveis. Hoje, a sua agonia acabou", disse num comunicado.
Pouco depois, ao ser questionado por jornalistas se estaria disposto a conversar diretamente com o presidente russo, Vladimir Putin, ele disse não achar que isso seria necessário.
"Vários países ajudaram a conseguir isso", afirmou Biden. "Eles participaram de uma negociação difícil e complexa a meu pedido. Agradeço pessoalmente a todos novamente."
O líder americano ainda citou diretamente o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que agiu como um dos principais mediadores do acordo. O líder vem buscando nos últimos anos se projetar como um moderador entre Ocidente e Oriente em tempos de crise —uma política externa que reflete a posição de seu país no mapa-múndi.
O governo russo também agradeceu aos dirigentes das nações que ajudaram a planejar o intercâmbio e afirmou que Putin havia concedido indultos aos prisioneiros libertados no âmbito do tratado.
A troca de prisioneiros desta quinta foi a maior desde 2010, quando uma permuta do tipo envolveu 14 pessoas. Desta vez, 16 pessoas encarceradas pelo Kremlin foram trocadas por dez russos —incluindo dois menores— detidos em cadeias pelo mundo.
Além de Gerchkovitch, a Rússia ainda libertou, entre outros, o ex-fuzileiro naval americano Paul Whelan, acusado de espionagem; a jornalista russo-americana Alsu Kurmacheva, acusada de coletar informações militares; o russo-britânico Vladimir Kara-Murza, ativista pelos direitos humanos condenado a 25 anos de prisão por traição.
Enquanto isso, voltam para Moscou Vadim Krasikov, condenado por matar um ex-comandante rebelde tchetcheno em Berlim em 2019 —uma decisão difícil, segundo o governo da Alemanha. E o jornalista hispano-russo Pablo González, detido pelos serviços de inteligência da Polônia perto da fronteira com a Ucrânia quatro dias após o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
Havia especulações sobre a iminência de um acordo há vários dias, depois que vários presos na Rússia foram transferidos dos locais onde estavam detidos, algo incomum. Além disso, a inteligência turca havia anunciado que estava coordenando uma grande troca de prisioneiros.
Gerchkovitch foi detido em 29 de março de 2023 na cidade de Ekaterimburgo. Em 19 de julho, o jornalista foi condenado a 16 anos de prisão em um julgamento descrito por alguns como claramente precipitado.
Na época, o Kremlin não apresentou nenhuma prova da suposta espionagem por parte do jornalista, de acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Gerchkovitch, a família dele, o governo dos EUA e o Wall Street Journal negam veementemente a acusação. O jornal americano afirma que ele tinha credenciais de imprensa fornecidas pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Passados 491 dias, Gerchkovitch finalmente foi solto. De acordo com o WSJ, ele e outros americanos foram transportados para um avião com destino aos EUA no aeroporto de Ancara no fim da manhã desta quinta.
A previsão era de que a aeronave pousasse na base militar de Andrews, em Maryland, por volta das 23h30 do horário local (0h30 em Brasília), segundo a Casa Branca. Biden planeja ir até lá para cumprimentar o grupo, assim como a vice-presidente Kamala Harris.
"Eles estão seguros e livres e começaram sua jornada de volta para os braços de suas famílias", disse o presidente Biden em uma publicação no X. A editora-chefe do WSJ, Emma Tucker, disse que o jornal estabeleceu um plano para garantir que o repórter receba todo o apoio necessário ao retornar ao país.
A ONG Anistia Internacional afirmou que o acordo é um sinal de que Putin "está claramente instrumentalizando a lei de modo a usar prisioneiros políticos como peões". Já o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou alívio com a permuta.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que Washington negociava um acordo para libertar da prisão o principal adversário de Putin, Alexei Navalni, quando ele morreu em fevereiro sob circunstâncias suspeitas.
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