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Brasil doa R$ 527 mil em ajuda humanitária a campos de refugiados na Argélia
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DE SÃO PAULO
O Itamaraty informou nesta terça-feira que o governo brasileiro doou cerca de R$ 527 mil [US$ 300 mil] ao Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU para contribuir com ações de ajuda humanitária a campos de refugiados na região do Saara Ocidental, na Argélia.
O PAM é o programa da ONU (Organização das Nações Unidas) que se encarrega de levar ajuda alimentar a regiões de crise ou de extrema pobreza em diversas partes do mundo.
De acordo com a organização o programa auxilia em média 90 milhões de pessoas por ano -- incluindo 56 milhões de crianças -- em mais de 80 países, com o objetivo de erradicar a fome e ajudar os destituídos a saírem da pobreza. A assistência do PAM tem como foco crianças malnutridas, crianças em idade escolar, órfãos, vítimas de desastres naturais e de conflitos armados.
Segundo o Itamaraty os recursos doados serão utilizados para compra de bens considerados prioritários para a garantia de segurança alimentar e nutricional dos refugiados do Saara Ocidental que vivem nos campos de refugiados de Tindouf. O processo de doação será acompanhado pela Embaixada do Brasil em Argel, capital da Argélia.
Leia mais sobre as atividades do PAM na Argélia (em inglês)
BRASIL DOADOR INTERNACIONAL
Em busca do status de potência global, o Brasil vem se posicionando na comunidade internacional em diferentes áreas. Além da recente participação no acordo nuclear com a Turquia e o Irã e a batalha pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país já se tornou um dos maiores doadores internacionais para áreas de risco ou financiamento de projetos, informou a revista britânica "The Economist" ainda no início do mês.
A reportagem indica que o orçamento oficial da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) é de R$ 52 milhões, mas um levantamento feito pelo Instituto de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido e o Centro de Pesquisa em Desenvolvimento Internacional do Canadá mostra que no total uma série de agências do governo brasileiro gastam ao menos 15 vezes mais do que isso em seus próprios programas de assistência.
Reprodução | ||
A revista britânica apontou que Brasília contribui com cerca de R$ 35 a R$ 44 milhões por ano com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mas de acordo com o chefe do programa da ONU no país o valor real seria de R$ 177 milhões.
Outras iniciativas brasileiras incluem: R$ 531 milhões ao Programa Mundial de Alimentos da ONU, R$ 619 milhões à reconstrução do Haiti; pequenas ações em Gaza, e cerca de R$ 5,8 bilhões em empréstimos comerciais que empresas brasileiras privadas concederam a países pobres desde 2008 por meio do BNDES.
Somando-se todas as frentes, o montante de ajuda internacional que o Brasil fornece a outros países chega a cerca de R$ 7 bilhões por ano -- menos do que a China, mas similar ao que tradicionais "generosos" doadores como o Canadá e a Suécia concedem a outras nações. E ao contrário dos ocidentais, o montante brasileiro triplicou desde 2008.
POTÊNCIA "SOFT-POWER"
A reportagem indica que sem fazer "muito alarde", Brasília vem atuando em diversas partes do mundo em desenvolvimento.
Após seis meses do terremoto no Haiti, um dos esforços internacionais mais bem sucedidos é brasileiro. O programa "Lèt Agogo" (Muito leite, em crioulo) é uma cooperativa que encoraja as mães a levarem os filhos para a escola em troca de refeições, uma ação baseada no Bolsa Família e financiado pelo governo brasileiro, diz a revista.
No Mali uma série de campos de algodão são cultivados com sucesso graças a uma fazenda experimental implementada pela Embrapa.
Em Angola, a empreiteira brasileira Odebrecht é um dos gigantes do setor e é responsável pela construção de grande parte do sistema de abastecimento de água no país, indica a "Economist".
A revista britânica diz que apesar de o Brasil não considerar as ações como "ajuda internacional", os benefícios trazidos pela participação do país nestes programas de desenvolvimento -- além da atuação direta de empresas privadas e agências governamentais brasileiras em diversas nações -- são indiscutíveis.
"A abundância da assistência na África ajuda o Brasil a competir com a China e a Índia em termos de influência como potência [do tipo 'soft-power'] no mundo em desenvolvimento. Também faz com que o país obtenha apoio para sua busca solitária por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU", indica a "Economist".
Para o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães Neto, os gastos se justificam com uma projeção do status de potência feita pelo governo. Já que poderes em ascensão como o Brasil um dia terão muito mais controle do cenário internacional, a redução da pobreza em países em desenvolvimento agora representará menos problemas no futuro.
POTÊNCIAS OCIDENTAIS
O mundo ocidental se preocupa mais com os esforços chineses do que os brasileiros, afirma a revista, mas mesmo assim a crescente presença de financiamento do Brasil em países em desenvolvimento vem despertando a atenção das potências mais ricas.
Há também especificidades sobre a maneira brasileira de "ajudar outros países", diz a reportagem. Ao contrário das principais agências de desenvolvimento internacional como as dos EUA, Reino Unido, Canadá e União Europeia, o Brasil não impõe metas ou condições rígidas que devem ser atingidas pelos receptores dos recursos.
Para Marco Farani, chefe da ABC, os esforços brasileiros contam com a experiência que produziu o recente sucesso econômico no país. Brasília conta com programas de excelência como o tratamento de HIV/Aids para os mais pobres e esquemas sociais como o Bolsa Família e Bolsa Escola.
No entanto, a "Economist" argumenta que o país ainda recebe ajuda internacional de potências ocidentais e programas mundiais de desenvolvimento, o que faz com que a distinção tradicional entre doadores e receptores perca sentido no cenário atual.
DIPLOMACIA DA GENEROSIDADE
A "diplomacia da generosidade" é bem-vinda pelas potências ocidentais, mas com ressalvas. As ambições de liderança brasileiras soam um alarme, mas a probabilidade de o país sul-americano se tornar um mercado mais influente do que a Rússia ou a China interessa ao Ocidente.
A "Economist" diz ainda que apesar dos sucessos, o modelo que o país adota como doador internacional ainda está em criação. A revista cita o o chefe da ABC, Marco Farani, dizendo que o Brasil precisa de mais oficiais no setor, mais independência e uma ênfase maior nos objetivos da política de assistência a outros países, ao invés de projetos isolados.
"Até conseguir fazer estas tarefas, o programa de ajuda internacional do Brasil provavelmente deve permanecer sendo um modelo global 'em aguardo' -- um símbolo, talvez, da situação do país como um todo", diz a revista britânica.
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