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Relatório acusa premiê de Kosovo de envolvimento em tráfico de órgãos
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Um relatório apresentado nesta sexta-feira (17) pelo Conselho da Europa acusa dirigentes do antigo ELK (Exército de Libertação do Kosovo) de desaparecimentos forçados e tráfico de órgãos antes e depois do conflito que levou à declaração de independência da província da Sérvia, em 2008.
As acusações envolvem o atual primeiro-ministro kosovar, Hashim Thaci -- que liderava o ELK e recebeu apoio da vizinha Albânia, de países europeus e dos Estados Unidos para lutar contra o regime sérvio de Slobodan Milosevic, morto em 2006 já fora do poder.
As autoridades de Kosovo rejeitaram o relatório, que qualificaram de "sem base e difamatório". "Utilizarei todos os recursos legais e políticos para que a verdade seja conhecida", disse o premiê acusado.
O documento de 27 páginas foi divulgado após quase dois anos de investigação dirigida pelo suíço Dick Martin, relator especial nomeado pela Comissão de Assuntos Legais da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, que reúne 47 países do continente.
O inquérito partiu de denúncias feitas em 2008 pela ex-promotora do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, Carla del Ponte, e aprofundadas em reportagens de Michael Montgomery e Altin Raxhimi, do Centro de Jornalismo Investigativo (EUA) e da Rede de Jornalismo Investigativo dos Bálcãs.
Em 2009, Montgomery e Raxhimi identificaram prisões clandestinas em que membros do ELK mantiveram kosovares de origem sérvia e albanesa acusados de 'colaborar' com as autoridades de Belgrado.
Estima-se que a maioria dos prisioneiros foi morta, e que parte deles teve seus rins e outros órgãos extraídos por uma quadrilha que seria comandada por Shaip Muja, médico que hoje é assessor do premiê Thaci e que também nega as acusações.
"Os sinais de cumplicidade entre os criminosos e os mais altos detentores de cargos políticos e institucionais são muito numerosos e muito sérios para serem ignorados", diz o relatório do Conselho de Europa, que pede investigações de órgãos internacionais e punição para os responsáveis.
O documento acusa os países ocidentais e o próprio Tribunal Penal para a Antiga Iugoslávia, sediado em Haia (Holanda), de terem ignorado evidências sobre a rede criminosa. "As organizações internacionais atuantes no Kosovo favoreciam uma abordagem pragmática, com a visão de que tinham que promover a estabilidade em curto prazo a qualquer preço, sacrificando princípios de justiça."
O conflito em Kosovo começou nos anos 80, quando Milosevic reduziu a autonomia da Província. No final dos anos 90, depois das declarações de independência das antigas repúblicas iugoslavas da Bósnia, da Croácia e da Eslovênia, o ELK incrementou suas ações contra as autoridades sérvias.
Em 1999, a Otan (aliança militar ocidental) bombardeou a Sérvia, acusada de 'limpeza étnica' contra os kosovares de origem albanesa.
Ao fim do conflito, Kosovo passou a ser administrada por uma força da ONU, a UNMIK. Em 2008, os dirigentes da província declararam independência, reconhecida hoje por 72 países. A UNMIK foi substituída pela Missão da União Europeia para o Estado de Direito em Kosovo (Eulex).
Segundo o relatório do Conselho da Europa, a Cruz Vermelha registrou 6.000 pessoas desaparecidas na província. Dessas, 1.400 foram encontradas vivas e 2.500 corpos foram encontrados e identificados. Entre os últimos, a maioria é de kosovares de origem albanesa mortos nas regiões que estavam sob controle sérvio.
"Enquanto a Sérvia acabou cooperando com as investigações, realizar escavações foi muito mais complicado no território de Kosovo e impossível no território da Albânia. Falta particularmente a cooperação das autoridades kosovares na busca pelas quase 500 pessoas que desapareceram depois do fim do conflito", diz o texto do Conselho da Europa.
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