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30/12/2010 - 02h44

Reality shows transformaram a década; veja as ideias que ganharam força

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DE SÃO PAULO

Ao longo da década, várias ideias promissoras surgiram. Veja as que se consolidaram.

AMBIENTALISMO POP

Para o bem e para o mal, a primeira década do século 21 nasceu sob o signo de Kyoto. Em 1997, a antiga capital imperial do Japão sediou a terceira conferência da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima. Ali se adotou um pioneiro tratado com força de lei o Protocolo de Kyoto estipulando metas obrigatórias de redução de gases do efeito estufa que entraram em vigor em 2005.

Nunca antes na história do mundo um tema ambiental deitara raízes tão fundas na política internacional. Os gases do efeito estufa são produzidos direta ou indiretamente em todas as atividades humanas. Da agropecuária ancestral à contemporânea geração de energia, não há setor que não participe do problemático aquecimento global --para agravá-lo ou mitigá-lo.

Neutralizar carbono virou moda nos desfiles de moda. Todo mundo recicla lixo e despreza sacolas plásticas. A grife Diesel já fez campanha "cool" (bacana/fresca) sobre aquecimento. Até executivos fósseis rebatizaram a British Petroleum como Beyond Petroleum (além do petróleo).

Há muito de ilusionismo nesse esverdeamento, ou 'greenwashing'. Bacanas usam sacola de pano, mas dirigem jipões engolidores de diesel (com letra minúscula). A BP abandonou o slogan futurista antes mesmo de derramar 5 milhões de barris no golfo do México.

Leia íntegra do texto de Marcelo Leite

CINEMA FAVELA

Ao longo do tempo, o cinema tem representado a favela como lugar de vício e virtude, de criação cultural sofisticada e malandragem, de crime e honestidade. Com maior ou menor profundidade, conforme o filme, esses aspectos dão conta de uma sociedade que sonhou em criar uma espécie de lugar à margem para seus pobres, desde que em 1888 os escravos foram libertados.

O que muda tudo e leva a uma nova tematização da favela, na virada do século 21 é a emergência da droga e o domínio brutal exercido pelo crime organizado. São vários os trabalhos que se esforçam por colocar em relevo as pessoas "de bem" e as atitudes criativas que tomam em circunstâncias adversas, caso de "Uma Onda no Ar" (2002), que trata da criação de uma rádio pirata numa comunidade de Belo Horizonte.

Mas quem estourou, no mesmo ano, foi "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, onde se narra a história de dois meninos, um que consegue se safar da atração que o crime exerce, outro que entra de cabeça na criminalidade mais brutal.

Leia íntegra do texto de Inácio Araújo

ATAQUE PREVENTIVO

Parte da "guerra ao terror" do ex-presidente George Bush, o ataque preventivo foi popularizado na década pelos EUA, que usaram a justificativa de que o Iraque estaria desenvolvendo armas de destruição em massa para invadir o país, em 2003.

Conceitualmente, é uma ação armada que tem o objetivo de repelir ofensiva ou invasão de território tida como iminente.

O direito internacional e a ONU reconhecem a prerrogativa, mas a iminência de uma ameaça é difícil de provar. No Iraque, em que não havia armas nucleares, o conceito sofreu um baque. Mas continua gerando debates, além de frequentemente aparecer no noticiário internacional.

Em 2008, a Colômbia afirmou que seu ataque às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador foi um ato de defesa preventiva contra um grupo terrorista.

Antes, em 2006, o atual premiê israelense Binyamin Netanyahu defendeu um ataque preventivo ao Irã se o país der continuidade ao seu programa nuclear. Essa alternativa ainda está sobre a mesa.

EXIBIR-SE

A primeira década do século 21 viu o surgimento de novas formas de se expor. Reality shows como "Big Brother", "Casa dos Artistas" e "A Fazenda" mostraram qualidades, defeitos e sentimentos íntimos de seus participantes, acompanhados por um público ávido.

Também a internet ganhou canais de autoexposição. Uma pessoa pode contar tudo o que acontece em sua vida --desde quando acordar até ir dormir-- no Twitter ou ainda criar "vídeo-diários", postar no YouTube e, de uma hora para outra, virar uma "celebridade".

Às vezes, ocorrem exposições exageradas de intimidade. O ator Ashton Kutcher, 32, publicou, em 2009, uma imagem das nádegas de sua mulher, a também atriz Demi Moore, 48, no Twitter.

Por conta do grande alcance desses sites --e de redes sociais como Facebook e Orkut--, há uma crescente preocupação sobre o uso que é feito de informações postadas na rede.

É crescente o debate sobre se fotos, vídeos e outros dados pessoais podem ser justificativa para alguém ter um emprego recusado, por exemplo. Afinal, qualquer um pode ser "googlado".

PONTOS CORRIDOS

Em 2003, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) realizou o primeiro Campeonato Brasileiro da história por pontos corridos, em sistema de turno e returno e sem mata-mata e finais.

O primeiro time a sagrar-se campeão por esse sistema --copiado do europeu-- foi o Cruzeiro.

Sete anos depois, ainda existe muita discussão sobre se esse é o melhor modelo e se há ou não emoção. Mas os pontos corridos parecem que chegaram para ficar e já criaram algumas situações particulares.

Em 2010, o técnico Muricy Ramalho, do Fluminense, definitivamente assinou embaixo do apelido de "rei dos pontos corridos" que ganhou. De oito campeonatos disputados por este sistema na década, ele conquistou quatro --três pelo São Paulo (em 2006, 2007 e 2008) e um pelo Flu.

Mas o modelo também dá motivos para ser criticado. Em três edições --2003, 2006 e 2007--, os campeões conquistaram o título por rodadas de antecipação.

CLASSE C

O Brasil viu nos últimos dez anos o número de sua população pobre diminuir e uma nova massa entrar para a categoria de consumidores.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas divulgado no ano passado mostra que, entre 2003 e 2009, o contínuo crescimento econômico permitiu que 29 milhões de pessoas passassem a integrar a classe C. O segmento, no ano passado, passou a representar mais da metade --50,5%-- dos brasileiros.

Pacotes de viagem, produtos de beleza, roupas, diversão, alimentação, filmes passaram a ser pensados e produzidos para essa nova camada de consumidores.

A nova classe C (renda média familiar de R$ 1.100 a R$ 1.650), afinal, tem poder de compra. Se antes seu principal consumo era de itens básicos, como alimentos e produtos de higiene e limpeza, hoje esse numeroso grupo tem TV paga em casa, viaja de avião e compra computadores e outros artigos de informática.

ANTITABAGISMO

O cerco ao cigarro voltou a se fechar na primeira década do século 21 no Brasil e no mundo. O alvo desta vez não foi a indústria tabagista, mas os próprios fumantes. No Brasil e no mundo.

O Estado de São Paulo aprovou em 2009 a Lei Antifumo, que proíbe o cigarro em quase todos os ambientes fechados _o fumante praticamente só pode acender um cigarrinho em espaços ao ar livre, vias públicas e, claro, em casa e em seu carro.

Polêmicas a parte, a lei pegou e se propagou. Estados como o Rio de Janeiro, Paraná, Maranhão e Minas Gerais também proibiram o cigarro em locais fechados.

Porém, ainda não há uma legislação nacional sobre o tema --um paulistano que for à Bahia poderá fumar dentro de um restaurante, enquanto toma um cafezinho após a refeição.

O contrário ocorre pelo mundo. Diversos países, como Reino Unido, Irlanda, França, Espanha, Itália, Grécia, Índia, Austrália e Canadá adotaram nesta década leis nacionais que proíbem o fumo em locais fechados. Estados americanos também proíbem a prática.

CASAMENTO DE EMPRESAS

O movimento de consolidação de empresas, que ocorre em diversos países do mundo já há algum tempo, chegou com força no Brasil na última década.

Com o objetivo de ter mais força no mercado interno mas, principalmente no internacional --e fazer um contraponto à gigante China--, empresas brasileiras de diversos setores se uniram.

A fusão entre a Sadia e a Perdigão, por exemplo, criou a Brasil Foods, maior empregadora e a terceira maior exportadora do país. Muitas vezes, o governo interveio nessas operações.

O caso mais emblemático talvez seja a compra da Brasil Telecom pela Oi, operação que teve, desde o início, o apoio federal. O governo defendia a criação de um grupo nacional forte no setor --uma "supertele". Para a conclusão do negócio, foi necessária uma mudança na legislação de telecomunicações.

Outras uniões importantes do ano: Pão de Açúcar e Casas Bahia, no varejo; JBS e Bertin, no setor frigorífico; Aracruz com a Votorantim, da qual nasceu a Fibria, maior produtora mundial de celulose de eucalipto.

ESTATIZAÇÃO

Se os anos 90 foram marcados pela privatização, a onda liberalizante na economia teve um acentuado recuo na década que termina. A tese da não intervenção do Estado foi abalada durante a crise financeira global de 2008/09.

Para salvar bancos e empresas que, se falissem, possivelmente levariam outras consigo, o governo dos EUA estatizou diversas companhias --ou injetou doses maciças de capital para salvá-las.

As primeiras foram Freddie Mac e Fannie Mae, duas das maiores empresas de financiamento imobiliário do país, setor que esteve no âmago da crise que se espalhou pelo mundo. A seguradora AIG também recebeu injeção de capital federal. Em troca, o governo assumiu mais de 80% da companhia.

Parte do pacote de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso para socorrer instituições financeiras foi usado para o "resgate" das montadoras Chrysler e GM, duas gigantes símbolo do capitalismo americano. Já o Reino Unido injetou 43 bilhões de libras no Royal Bank of Scotland e no Lloyds, praticamente nacionalizando ambos. A ideia dos governo é se desfazer gradativamente de suas participações nessas empresas conforme a economia for se recuperando. O que ainda não começou a acontecer.

CÉLULAS-TRONCO

Uma das maiores promessas médicas do século 21 até agora, a pesquisa com células-tronco teve avanços notáveis na década e perdeu o rótulo de experimental. Mas ainda engatinha, frente a seu potencial.

Cercado de polêmica, inclusive no campo da ética e religião, o uso desse tipo de célula ainda não é corriqueiro, e os resultados, tampouco são extraordinários. Mas a projeção é de popularização.

As células-tronco mais utilizadas em experimentos ainda são as adultas, extraídas de tecidos maduros como, por exemplo, o cordão umbilical ou a medula óssea.

As embrionárias, tiradas de embriões humanos com poucos dias de vida e que podem produzir qualquer tipo de célula (representando a maior esperança de cientistas), ainda enfrentam resistências, já que, para extrair a célula-tronco, o embrião é destruído.

No entanto, apesar de algumas já envolverem seres humanos, as pesquisas com ambas ainda estão em estágio inicial. Em outubro passado, a empresa americana Geron anunciou o início do primeiro tratamento experimental de um ser humano com células-tronco embrionárias.

 

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