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05/02/2011 - 08h00

Reação dos EUA foi amadora em crise, diz diplomata de Israel

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MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve uma reação amadora e prematura ao defender a saída do ditador Hosni Mubarak, o que fez aumentar a incerteza no Egito.

A opinião é de Dan Gillerman, embaixador de Israel na ONU entre 2002 e 2008, que conhece bem os personagens cotados para conduzir o Egito pós-Mubarak.

Ela reflete a ansiedade da maioria dos israelenses, sobretudo pela possibilidade de o poder cair nas mãos da Irmandade Muçulmana.

Para Gillerman, o Egito não está pronto para a democracia, e a saída mais segura da crise é uma transição gradual sob chefia do Exército.

Folha - Dos cenários, qual o melhor para Israel?

Dan Gillerman - O melhor cenário, não só para Israel mas também para o Egito e a região, é transição cuidadosa e gradual. Não se faz democracia do dia para a noite. O Egito não tem nem a cultura nem as instituições para isso.
O melhor seria um período de transição em que o Exército, liderado pelo general Omar Suleiman, levasse a um regime democrático. Conheço bem Suleiman e o respeito muito, ele tem vasta experiência e seria um bom nome para a transição. Mas cabe aos egípcios decidir.

Como o sr. avalia o comportamento dos EUA?

O presidente Obama cometeu um grande erro logo no início ao descartar tão rápido o presidente Mubarak, deixando-o à deriva. É uma mensagem extremamente perigosa para outros aliados dos EUA, que também temerão ser abandonados.
Se um aliado como Mubarak, com tantos anos de cooperação com os EUA, pode ser descartado do dia para a noite, o que outros países podem esperar? Obama teve uma reação prematura e amadora. Contribuiu muito para aumentar a incerteza.
O Oriente Médio vive hoje um terremoto, seu momento mais perigoso e dramático em 40 anos. Se o Egito cair nas mãos de extremistas, como a Irmandade Muçulmana, a situação ficará terrível, especialmente para Israel, que já tem o Hamas em Gaza e o Hizbollah no Líbano, mas também para a região inteira.

O sr. considera provável que o Egito pós-Mubarak seja controlado pela Irmandade?

Não parece haver liderança organizada por trás da revolta no Egito. As duas únicas forças organizadas no país são o Exército e a Irmandade Muçulmana. Por isso, tudo depende muito do Exército. Se a Irmandade prevalecer, acho que será péssimo para o Egito -não creio que seja algo que a maioria da população deseje.

O acordo de paz entre Israel e Egito corre perigo?

Espero que não. O mesmo medo surgiu há 30 anos, quando o presidente Anwar Sadat foi assassinado. Muitos apostavam na revogação do acordo, que não ocorreu.

Se a Irmandade chegar ao poder o risco aumenta, pois eles já defenderam a revogação. Seria um erro terrível para o Egito e todo o Oriente Médio; esse acordo é um pilar da estabilidade regional.

Mohamed ElBaradei, que surge como possível liderança, sempre foi muito crítico a Israel. Com ele no poder as relações mudariam?

Conheço bem ElBaradei, trabalhei com ele quando era chefe da Agência Internacional de Energia Atômica e acho que ele poderia ter sido mais eficiente para evitar que o Irã desenvolvesse seu programa nuclear. Se chegar ao poder, espero que mantenha uma posição responsável também em relação a Israel.

Israel sempre criticou os vizinhos pela falta de democracia. Não deveria estar apoiando esse movimento?

Se o Egito se tornar um país democrático, será ótimo, mas o processo deve ser conduzido com extremo cuidado. Espero que a região caminhe para a democratização, mas há um risco enorme de que vá para o lado oposto, a radicalização islâmica.

Infelizmente, quando olhamos o mundo árabe, não vemos uma única democracia. Ao mesmo tempo, sabemos o que aconteceu com os palestinos. Quando houve eleições, em vez de criar democracia, levaram ao poder o Hamas, um grupo terrorista que não aceita o diálogo.

 

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