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Europa foca islã e deixa de ver extremismo de direita
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CAROLINA VILA-NOVA
EM BERLIM
Nos últimos dez anos, seguindo a orientação da política externa americana, a Europa centrou sua atenção no combate ao extremismo islâmico e subestimou a ameaça potencial da extrema direita, deixando de monitorar seu crescimento na região.
É o que avaliam especialistas ouvidos pela Folha.
Um desses radicais, Anders Breivik, chocou a até então estável Noruega no último dia 22 com dois ataques que mataram 77 pessoas.
O foco é compreensível. Depois do 11 de Setembro, a região também foi alvo de ataques (ou tentativas) em diversas ocasiões, como em Madri (2004) e Londres (2005).
Mas, enquanto a Europa investigava as comunidades muçulmanas -e fomentava indiretamente a islamofobia, base da extrema direita-, vários países tiveram aumento da representação de partidos de direita populista em escala nacional e da ocorrência de atos de extremismo.
"Era natural que a ênfase no fundamentalismo islâmico fosse central após o 11 de Setembro, até devido às ligações dos terroristas com a Alemanha e outros países da Europa. Mas demos uma atenção exagerada às comunidades islâmicas aqui", avalia Joerg Forbrig, do German Marshall Fund em Berlim.
"Seguimos a agenda ditada pelos EUA, por razões óbvias, mas não analisamos a situação regional bem o suficiente para transformar isso também em prioridade", diz.
VIOLÊNCIA EM ALTA
O cientista político da Universidade Livre de Berlim Hajo Funke diz que "nos últimos anos, o cenário da extrema direita na Alemanha cresceu em termos de atos de violência, lenta mas firmemente, havendo cerca de mil casos por ano". Segundo ele, "desde a reunificação, do país, em 1990, mais de 300 pessoas já foram mortas nessas ações".
O mapa da extrema direita é bem diverso ao redor da Europa. Em alguns países, seu crescimento é ilustrado pela participação de partidos no governo ou no Parlamento em proporções inéditas -na casa dos dois dígitos. É o caso de Itália e Holanda.
Em outros países, houve um aumento da ação extremista que não se traduziu em aumento da representação política, como na Alemanha.
Há um terceiro grupo de países em que ambos os fenômenos se articularam, como Áustria, Hungria e a Escandinávia de modo geral.
Embora bebam de um repertório ideológico comum -anti-imigração, anti-integração, anti-islã-, há também diferenças regionais.
No Leste Europeu, onde há poucos imigrantes e poucos muçulmanos, o alvo preferencial dos extremistas são minorias tradicionais, como ciganos e judeus -casos deBulgária, Romênia, Hungria.
Já no norte europeu, o movimento aparece como uma reação a políticas que favoreceram a chegada de refugiados e migrantes econômicos, muitos muçulmanos -casos de Dinamarca e Holanda.
Para Forbrig, "esses partidos responderam a incertezas e medos da sociedade europeia. São países que passaram por mudanças maciças nos últimos 20 anos".
Na análise do especialista, "o aumento da imigração traz uma diversidade que confronta as pessoas. Há dúvidas sobre a capacidade de integração dos migrantes, temor da presença de muçulmanos e do fundamentalismo islâmico e preocupação com a crise econômica e o futuro".
Uma explicação para o crescimento dos partidos de direita é que "eles souberam responder a esses medos. E tiveram sucesso porque o establishment político não lidou com essas questões como deveria, respondendo as dúvidas, e assim criou o nicho para o crescimento desses partidos", afirma ele.
FUTURO
Os ataques terroristas da semana passada na Noruega deverão provocar reação conjunta contra grupos extremistas e ter impacto negativo nos partidos da direita populista, na avaliação de analistas.
"Os partidos em si não são violentos. Mas sua ideologia é potencialmente violenta. Breivik obteve sua ideologia de um partido populista na Noruega e se radicalizou nesse contexto", diz Funke.
Para Forbrig, "eles perderão votos porque serão associados com Oslo e com a violência. O eleitorado desses partidos não é violento".
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