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10/09/2011 - 17h33

Brasileiro deu aula de inglês a piloto terrorista do 11/9

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CHICO FELITTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os aviões que derrubaram as Torres Gêmeas também quase botaram abaixo a carreira do professor de inglês Tacito Cury, 32. Mas, passados dez anos do atentado, que viu pessoalmente, ele reconstruiu sua vida profissional.

Em 2001, Cury substituiu em duas aulas o professor que dava aula de inglês para Marwan al Shehhi, piloto terrorista do vôo 175 da United Airlines, que se chocou contra a torre sul do World Trade Center.

Foi por isso que reconheceu Shehhi no primeiro retrato-falado que viu na TV em 12 de setembro de 2001. "Eu tinha colocado ele para ficar uns tempos na casa de um amigo porto-riquenho, porque ele veio de última hora para Nova York e não tinha onde ficar."

Além de ajudar com Shehhi a preencher a papelada para o visto, conta que pouco conversou com ele. "Ele ficava muito no computador da escola, usando a internet. Mal entrava nas aulas. Era calado demais e sem amigos."

Eduardo Knapp/Folhapress
Tacito Cury, 32, em seu apartamento em São Paulo, mostra camera fotografica que usou no dia do atentado
Tacito Cury, 32, em seu apartamento em São Paulo, mostra camera fotografica que usou no dia do atentado

Ligou de imediato para o FBI. Após a polícia federal americana investigar a escola onde Cury trabalhava, a quarteirões do WTC, ele foi demitido.

"Meu chefe não gostou nada de eu ter envolvido a escola com a polícia e com a mídia", diz Cury, que na época deu entrevistas à Folha e à Rede Globo. "Eu tinha 22 anos, sem faculdade, sem nada, com meu inglesinho de professor. Achei que não fosse mais conseguir emprego."

Com medo de perder o visto de trabalho e ser deportado, Tacito começou a mandar "uns 200 currículos por dia". A única entrevista de emprego que conseguiu ao fim de uma semana não lhe agradou, porque ganharia menos do que os US$ 35 mil (cerca de R$ 56 mil) que faturava anualmente na escola vizinha às Torres Gêmeas.

Motivado pela falta de perspectiva, usou a economia dos cinco anos que já tinha passado no país, de início servindo mesas, e abriu sua própria escola antes de 2001 acabar.

"Era pequenininha, em Nova Jersey, onde eu morava. Além de ensinar inglês, português e espanhol, vi que os estrangeiros ao redor precisavam de aulas de cidadania americana e de computação."

AULA DE CRISE

Mas o negócio sofreu com a falta de clientela no início. "Era por causa do aumento nas restrições para entrada de estrangeiros nos EUA", diz Tacito, para quem "a crise de imigração ainda não terminou" no país.

Mesmo com regras mais severas para a emissão do visto estudantil, a escola começou a perseverar, com maioria de alunos latinos. Ao contrário da escola onde trabalhava à época do atentado, Cury não tem hoje muitos alunos do Oriente Médio. "É um reflexo do preconceito dos americanos contra eles. É normal, só uma geração vai apagar isso."

Após três anos, o Columbia English Institute se expandiu a ponto de ganhar uma filial, em Manhattan. Nos anos seguintes, vieram uma unidade em Londres, outra em Paris, uma terceira na cidade canadense de Montreal e, por fim, uma no Brasil.

"Acho que meu negócio deu certo em partes pelo marketing. Na hora de colocar o nome, escolhi um parecido com a universidade de Columbia, para que o aluno estrangeiro, quando 'desse um Google', achasse a escola entre os resultados."

Tacito mora hoje entre Nova York e São Paulo, onde começa uma firma de decoração. "O meu sonho sempre foi voltar para o Brasil de vez. Ainda é. Mas aqui é tudo tão caro que precisaria de várias empresas no estrangeiro para voltar."

 

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