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Disputa com a mídia marca gestão de Cristina Kirchner
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ROSAURA AUDI
DA ANSA, EM BUENOS AIRES
A intenção do governo argentino de legislar sobre a fabricação e a distribuição do papel para jornais e o estabelecimento da Lei de Serviços Audiovisuais, que determina a abertura do setor, são algumas das questões de disputa entre Cristina Kirchner e os donos dos principais jornais do país.
O presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa), Daniel Dessein, afirmou que as disputas pelo controle da Papel Prensa, a empresa que fabrica 76% do papel-jornal usado pela imprensa do país, representam "um perigo".
Leo La Valle/Efe | ||
Protestos sindicais interromperam entrega do "Clarín" em março; jornais disseram que governo ignorou a Justiça |
Desde a intervenção do Estado, a distribuição da fábrica, que cobre 160 mil toneladas das 220 mil que são consumidas regularmente na Argentina, foi modificada, beneficiando diversos pequenos periódicos do país.
Dessein, no entanto, defende que a Papel Prensa é uma empresa privada na qual eram tomadas decisões com critérios comerciais. "As críticas do governo de que o 'Clarín' comprava o papel com 12% de desconto não levam em conta que o Clarín consome em média 120 mil toneladas de papel por ano, ou seja, mais da metade do que é demandado no país".
"O que às vezes não se leva em conta é que a Papel Prensa não pode se sustentar sem o 'Clarín' e o 'La Nación'", concluiu.
HISTÓRICO
A fábrica foi fundada em 1972 e adquirida pelos principais jornais argentinos, "Clarín" e "La Nación", durante a ditadura, fato que está sendo investigado pela Justiça por conta das denúncias de que foram cometidas violações aos direitos humanos neste processo.
Ele também reclamou sobre um "bloqueio majoritário de meios jornalísticos" que tem como objetivo "confirmar e reproduzir o discurso governamental", ao contrário do que o governo afirma, de que os grupos privados que concentram grande quantidade de veículos escondem a versão oficial dos fatos e apresentam uma realidade nacional catastrófica.
Para a Adepa, os últimos dois anos foram os mais difíceis para os meios de comunicação desde a retomada da democracia em 1983.
A entidade ainda alegou, por meio de um comunicado divulgado no começo deste mês, que jornalistas e diretores de meios de comunicação vêm sofrendo "danos pessoais e injúria" por parte de funcionários ou setores ligados ao governo.
Leo La Valle/Efe | ||
Leitor segura exemplar do "Clarín" de março deste ano; jornal deixou capa em branco em protesto ao governo |
Para o advogado Damián Loreti, é preciso fazer uma consulta se estes realmente foram os piores anos para "os jornalistas que sofreram ameaças, golpes, processos penais recorrentes, processos civis, processos por desacato, calúnia e difamação desde 1983".
Loreti, um dos principais entusiastas do debate pela mudança da Lei de Radiofusão, estabelecida na última ditadura militar (1976-1983), acredita que a indústria jornalística se opõe ao governo porque desde 2008 "entrou em crise o modelo de formação de conglomerados econômicos".
A lei, que foi impulsionada pelo governo e sofreu resistência de partidos políticos opositores e de grandes grupos de mídia argentinos, estabeleceu que um terço das licenças de rádio e televisão serão destinadas ao setor privado com fins comerciais, um terço para organizações sociais, universidades, cooperativas e povos indígenas e o outro terço para o Estado.
Ainda segundo ele, estes grupos possuem meios de comunicação nos quais existem "interesses visivelmente extrajornalísticos que influenciam sobre os conteúdos" das publicações.
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