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21/10/2011 - 20h47

Na Argentina, economia forte favorece reeleição de Cristina Kirchner

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ELEA ALMEIDA
DE SÃO PAULO

O bom desempenho da economia argentina e a falta de coesão da oposição favoreceram a presidente Cristina Kirchner na corrida eleitoral por mais um mandato, apontaram analistas ouvidos pela Folha. Segundo pesquisas, ela deve vencer com folga as eleições que ocorrem no domingo (23).

Mesmo com a desaceleração do ritmo de crescimento mundial, a expectativa é de que a economia argentina continue avançando em 2011, com o PIB (Produto Interno Bruto) subindo até 8% em bases anuais. No ano passado, dados do Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo) apontam que houve avanço de 9,2% em 2010.

"A economia está crescendo e há um nível de consumo muito elevado, o que não é apenas responsabilidade do governo, mas ele toma o crédito por isso", diz o argentino Andrés Malamud, autor do livro "La Política en Tiempos de Los Kirchner", com Miguel de Luca, ainda não publicado no Brasil.

Martin Acosta/Reuters
Presidente Cristina Kirchner em Buenos Aires
Presidente Cristina Kirchner em Buenos Aires; bom desempenho da economia favorece reeleição

"Por um lado, o governo capitaliza o crescimento econômica e, por outro, a oposição não conseguiu se unificar", completa ele, atualmente pesquisador da Universidade de Lisboa.

Alberto Pfeifer, membro do GACint (Grupo de Análise da Conjuntura Internacional) da USP, diz que o desempenho econômico se deve principalmente às exportações agrícolas, sobre as quais impostos são taxados, ajudando a gerar uma receita maior ao governo.

Esse imposto, afirma, ajuda a "distribuir renda de maneira direta, em uma prática que pode ser considerada populista". A distribuição feita por programas sociais contribuem para o crescimento da renda da população, dando, por exemplo, subsídio para cada filho em uma família, semelhante ao que ocorrem com o Bolsa Família brasileiro.

"O governo da Cristina maneja muito bem a disposição de verbas, eles centralizaram isso", diz Ricardo Sennes, sócio-diretor da Prospectiva Consultoria e coordenador do Gacint-USP. "O resto do país -- com exceção da capital, Buenos Aires, controlada pela oposição e com recursos próprios suficientes -- vive em função do governo federal em acordos feitos com base política".

Sennes afirma que, diante de tal postura e do bom desempenho econômico, as críticas ao governo perderam força, e a oposição se viu com movimento limitados na disputa eleitoral.

OPOSIÇÃO

A fraqueza da oposição durante a corrida eleitoral também ajuda a explicar a grande vantagem apresentada por Cristina nas pesquisas e nas primárias que ocorreram em agosto. A presidente obteve 50,2% dos votos nas eleições primárias, simultâneas e obrigatórias, enquanto o candidato que mais se aproximou dela, Ricardo Alfonsín (UCR) ficou com 12,2% dos votos.

Reuters/Efe
Cristina Kirchner, Ricardo Alfonsín, Eduardo Duhalde, Hermes Binner, Alberto Rodríguez Sá, Elisa Carrió e Jorge Altamira
Kirchner, Ricardo Alfonsín, Eduardo Duhalde, Hermes Binner, Alberto Rodríguez Sá, Elisa Carrió e Jorge Altamira

Para vencer a eleição no primeiro turno, ela precisa receber mais de 40% dos votos e ter uma vantagem de 10% em relação ao segundo colocado --caso contrário a disputa irá para o segundo turno. Fazem frente à candidatura de Cristina mais cinco concorrentes: Hermes Binner, Alberto Rodríguez Saá, Eduardo Duhalde, Eliza Carrió e Jorge Altamira.

"Está praticamente clara a vitória. E, desde o momento em que ela mostrou ter uma forte preferência popular, houve uma migração generalizada de opositores à sua base", afirma Sennes.

Segundo Pfeifer, a oposição argentina falhou ao não conseguir se encontrar como um agrupamento minimamente coeso para apresentar uma liderança forte e com chances de desbancar a popularidade de Cristina. Por isso, diz, a presidente terá uma base de governo ainda mais ampla, com a oposição se concentrando em algumas poucas províncias.

"A oposição se apresentou muito fragmentada e medíocre para essas eleições. Não há nenhuma liderança forte que tenha condições de conquistar a vitória", concorda Malamud, ressaltando que o discurso de união nacional foi ponto positivo em sua campanha.

Pfeifer critica ainda a postura dos opositores de fazer uma "crítica desvairada e inconsequente" contra a política kirchnerista, quando deveriam ter apontado como os programas sociais poderiam ser melhorados.

INSUSTENTÁVEL

A mesma força econômica que ajudou a alavancar o favoritismo de Cristina nas eleições, porém, pode ser prejudicial à presidente em seu próximo mandato, caso ela concretize os resultados apontados pelas pesquisas eleitorais divulgadas até o momento.

Segundo Malamud, a economia argentina é muito dependente das exportações e do bom desempenho, em especial, da China e do Brasil. Com isso, o destino argentino está dependente do que ocorrer nesses países. E a Argentina não tem feito medidas de contenção de gastos, o que pode prejudicar ainda mais.

O governo tem conquistado o apoio da sociedade usando o crescimento econômico, mas, se isso acabar, não há instituições que consigam conter manifestações e conflitos. "Por isso, a situação social argentina depende muito da economia", diz Malamud.

Uma das consequências das medidas implementadas pelo governo argentino, segundo Pfeifer, é a inflação. O índice oficial aponta que os preços avançam a uma taxa anual de 10%, mas estimativas de consultorias privadas chegam a indicar uma alta de até 25%.

"A inflação é um processo próximo do descontrolado na Argentina, evidenciando que ter dinheiro não basta, tem que saber gastá-lo", diz ele. "Um dia a farra acaba. O que eu vejo é que a Argentina está trabalhando muito no curto prazo, quebrando ovos da cesta e se esquecendo de deixar alguns para chocar".

Ricardo Sennes afirma acreditar que o modelo adotado pelo governo Kirchner dá sinais de esgotamento, apesar de a economia ainda apresentar a taxa de crescimento mais alta da América Latina, deixando como desafio ao vencedor de domingo reestruturar a política atualmente feita.

"Levaram esse modelo muito longe e parece que o governo tenta fazer com que ele dure o máximo possível, pelo menos para vencer as eleições", reforça. "A Argentina superou os cenários negativos do passado, mas, esse ciclo bem sucedido para sair da crise está chegando a seu limite".

PESQUISAS

Segundo a pesquisa mais recente divulgada pela da empresa local Management & Fit na quinta-feira (20), o apoio à presidente de centro-esquerda está atualmente em 54,6% contra 53,2% na sondagem anterior, realizada no início deste mês.

Isso a coloca mais de 40 pontos à frente do rival mais próximo, o governador socialista Hermes Binner. Se o resultado se confirmar, essa seria a maior vitória eleitoral desde que a democracia retornou à Argentina em 1983, quando Raúl Alfonsín obteve 51,8% dos votos.

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pode ser reeleita no primeiro turno das eleições gerais do dia 23 com mais de 50% dos votos e uma vantagem de mais de 35 pontos, afirmam as últimas pesquisas eleitorais.

Diferentes consultorias afirmaram que o socialista Hermes Binner, governador da província de Santa Fé, que ficou em quarto nas eleições primárias de agosto, será o candidato da oposição com a melhor classificação, entre 14 e 17% dos votos.

 

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