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Agência Brasil-Argentina é exemplo para Oriente Médio, diz novo embaixador na AIEA
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
O Brasil pretende apresentar a agência brasileiro-argentina de inspeções nucleares mútuas como um exemplo para o Oriente Médio, na conferência que discutirá a criação de uma zona livre de armas atômicas naquela região.
"A ocorrência da reunião, prevista para o primeiro semestre de 2012, já será um fato marcante", disse à Folha Laércio Vinhas, o novo embaixador brasileiro na AIEA (Agência Internacional de Energia Nuclear).
Atual diretor de Radioproteção e Segurança da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Vinhas será o primeiro não diplomata a chefiar a missão brasileira na agência da ONU.
Nomeado pelo Planalto, ele chegará a Viena, sede da AIEA, em janeiro. Substituirá Antonio Guerreiro, no posto há cinco anos.
A conferência sobre o Oriente Médio foi convocada na última revisão do TNP (Tratado de Proliferação Nuclear), em 2010. O objetivo é deter uma corrida armamentista na região, onde Israel é o único país com arsenal atômico, mas vários outros, incluindo o Irã, desenvolvem projetos nucleares.
Vinhas afirma que a Abacc (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle) é exemplar porque dá garantias de uso pacífico do átomo que vão além das salvaguardas da AIEA. "O conhecimento mútuo das atividades nucleares é grande. Além da inspeção cruzada, há uma série de atividades em conjunto."
Quando Vinhas assumir o posto, a AIEA deverá estar no centro de nova polêmica sobre o programa iraniano, atualmente sob sanções do Conselho de Segurança da ONU devido à suspeita de ter fins militares.
Em novembro, a direção da agência divulgará novo relatório sobre o Irã. Segundo o "New York Times", ela vem sendo pressionada pelos EUA a incluir informações da inteligência ocidental segundo as quais Teerã está testando tecnologia de armas atômicas.
O novo embaixador lembra que, hoje, todas as instalações declaradas do Irã estão sob inspeção internacional. Mas, por já ter agido "fora da ortodoxia", o país deve aceitar ações para "reconstruir a confiança", disse.
COOPERAÇÃO EM TECNOLOGIA
Vinhas defendeu que a AIEA reforce a cooperação em tecnologia nuclear, sobretudo na medicina, na indústria e na agricultura. "Achamos que os três pilares da agência --tecnologia, segurança e não proliferação-- devem ter a mesma prioridade."
Além do uso da radiação para tratar e diagnosticar doenças, ele deu o exemplo do combate à mosca da fruta, feito no Brasil por uma fábrica do Ministério da Agricultura. Num viveiro, as fêmeas são mortas e os machos, esterilizados por radiação. De volta à natureza, copulam sem reproduzir, reduzindo a ameaça às colheitas.
O Brasil é hoje o oitavo maior contribuinte da AIEA. Entra com cerca de US$ 6 milhões, de um orçamento anual de US$ 300 milhões. Os principais contribuintes ainda são os EUA (25%) e o Japão (15%).
Vinhas diz que, na agência, o Brasil é visto como "ponte" entre os países desenvolvidos e os demais. "Temos cerca de 2.300 instalações que utilizam fontes ou equipamentos geradores de radiação na medicina e na indústria. Dominamos o ciclo do combustível, somos ativos na parte de reatores para gerar eletricidade. Ao mesmo tempo, conhecemos os problemas dos países em desenvolvimento."
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