É o amargor, não a doçura, a alma do chocolate da Amma. Um apelo nada óbvio mas que pode, justamente, conquistar papilas gustativas não adeptas da chocolatria.
O louvor nessa marca baiana nascida em 2007 das cabeças de Luiza Olivetto e Diego Badaró é ao cacau.
Reivindica-se como nosso um ingrediente essencialmente sul-americano que, só após viajar à América Central (primeiro) e à Europa (depois), ganhou importância e renome sob forma de doce. Chocolate bom, afinal, é belga, suíço, talvez francês. Não?
Pois a Amma dá a um produto brasileiro um lugar nesse panteão —e, melhor ainda, vendendo com alguma escala, já que seus produtos estão não só nas duas (lindas) lojas em São Paulo e no Rio, mas também nos supermercados, embora a preço salgado.
Lança mão para isso de um "storytelling" poderoso, essa fórmula marqueteira tão indiscriminadamente usada hoje: é o cacau da floresta; é nosso; é orgânico; é um superalimento; é "fair trade" (cultivado e colhido com respeito àqueles que o fazem).
O final feliz, nesse caso, é que o produto supera a expectativa criada pela narrativa, seja na forma de suas barras intensas, com 60%, 75%, 85% e 100% (totalmente amargo), seja na de guloseimas e bebidas produzidas com seu cacau, seja na de chocolate em pó.
Não há pirotecnia em ingredientes, apenas cuidado extremo. A barra crocante em que o contraponto de textura cabe aos nibs (farelos de amêndoas de cacau) é uma ideia especialmente feliz.
Aveludado, leve e sobretudo instigante, o chocolate da Amma é para quem idolatra boa comida. Quem diria que algo tão prosaico, que é febre há mais de 500 anos, poderia ainda nos surpreender?
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Casa do Sabor Amma. Al. Min. Rocha Azevedo, 1.052, Cerqueira César, tel. 3068-0240.