Despejar um espesso fio de azeite sobre qualquer prato carrega em si uma sensação de riqueza. Pelo menos no mundo privado de prazeres mundanos.
Mas, vale ressaltar, nunca foi exagero escrever azeite e riqueza na mesma frase. Já na Idade Média, lá em Portugal, onde o povo manja fazer azeite dos bons há um tempão, um púcaro desse óleo equivalia ao preço de um quilo de carne de carneiro. O produto custava dois soldos. O dia de trabalho de um homem a amassar cal valia três.
A coisa toda é trabalhosa. A oliveira só dá fruto uma vez ao ano. E tem que prensar ao menos cinco quilos de azeitona para render um litro do líquido.
O regalo anda mais democrático, e o brasileiro consome um bocado. O país importa mais de 50 mil toneladas ao ano, o que nos coloca entre os maiores importadores.
Aqui, quase metade dos paulistanos das classes A e B que costumam cozinhar ouvidos pelo Datafolha prefere Gallo, azeite português cuja origem remonta ao século 19. A marca, que nasceu em Abrantes, região cortada pelo rio Tejo, hoje tem oito variedades.
Degustar azeite exige umas manhas. Há a acidez: quanto mais baixa, melhor, dizem experts. Mas aromas, sabores e sensações de amargor e picância estão ali para serem descobertos.
Para quem arrisca uma degustação, recomenda-se um naco de maçã verde entre cada amostra. E ainda fica chique.
A despeito de possíveis afetações, utilizar azeite pode salvar quase tudo. Seja para afogar um bacalhau ou finalizar, com estilo, a saladinha daquele pê-efe ali da esquina. Salva até o prato todo.
É como colocar queijo no desjejum insosso. Quase como fritar. Bom é que pode ser frito, tacar queijo e desaguar aquele riacho de azeite. É sempre pura ostentação.