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19/10/2012 - 03h30

Editorial: A nova família

Segundo o Censo 2010, dos brasileiros casados, 36,4% viviam em união consensual, contra apenas 28,6% em 2000. Como consequência, o total de casados perante Deus ou a lei caiu de 71,4% para 63,6%.

Outro número que cresceu significativamente foi o de separados e divorciados. O percentual dos que deixaram de viver em algum tipo de união passou de 11,9% em 2000 a 14,6% em 2010. O de divorciados quase dobrou, de 1,7% para 3,1%.

O IBGE também passou a identificar os casais homossexuais. Os que admitem viver nesse tipo de relação são poucos, correspondendo a meros 60 mil domicílios, 0,1% do total. Mas o simples fato de o instituto oficial de estatísticas tentar contá-los já indica a maior aceitação de arranjos matrimoniais que fogem do tradicional.

Para os mais conservadores, esses números retratam a desestruturação da família. "O tempora, o mores", poderiam esbravejar, no rastro de Cícero.

Para os menos tradicionalistas, as mudanças têm aspecto positivo. Elas indicam que vivemos numa era de maior tolerância e menos hipocrisia, na qual as pessoas podem exercer de forma mais ampla sua liberdade individual.

A experiência brasileira e de outros países também sugere que, de um modo geral, os novos arranjos são capazes de preservar os interesses de filhos e cônjuges.

Muito embora as implicações jurídicas de uma união estável não sejam idênticas às de um casamento civil, elas são suficientes para proteger a parte mais fraca, ao prever o pagamento de pensões e assegurar o direito de herança.

Já os vaticínios catastrofistas dos que afirmavam que crianças oriundas daquilo que algumas décadas atrás se chamava de "lares desfeitos" --ou, hoje, das criadas por casais homossexuais-- se tornariam adultos perturbados vêm sendo desmentidos pela realidade.

Seria exagero, entretanto, concluir que tudo é um mar de rosas nas novas disposições familiares. A consequência aritmética de uma separação é que o trabalho doméstico e os encargos familiais antes divididos entre duas pessoas (ainda que desigualmente) passa a ser feito por uma, em geral a mulher --famílias monoparentais femininas já abarcam 16% dos domicílios.

O fardo se torna ainda maior quando se considera a dificuldade que é conseguir serviços públicos, como creches e ensino em tempo integral, que permitam conciliar o trabalho com a paternidade.

É preciso que o poder público invista rápida e eficazmente nessas áreas, para o Brasil não ser atropelado pela realidade demográfica.

 

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