Editorial: Arenas da barbárie
Só a firme e tempestiva punição a episódios de violência nos estádios será capaz de evitar que o país assista a novas barbáries em praças esportivas, tais como a protagonizada por torcedores de Atlético-PR e Vasco, em Joinville (SC).
Ainda que seja um bom primeiro passo o Ministério Público do Paraná ter decidido, ontem, proibir uma torcida organizada do Atlético-PR de frequentar estádios brasileiros pelo prazo de seis meses, a iniciativa é muito tímida.
Salvo três vascaínos detidos, os delinquentes que participaram da confusão --facilmente identificáveis pelas numerosas imagens disponíveis-- continuam impunes. Poderão voltar às arenas na primeira oportunidade, desde que não vistam camisa da organizada.
A necessidade de punir os vândalos de forma individual não escapou a Cidinei Batista da Silva, cujo filho, William, envolveu-se na briga e teve o crânio fraturado. "Mesmo sendo vítima, ele estava no meio daquilo tudo. (...) Se fez algo errado, vai responder por isso", declarou o pai.
Em relação à selvageria de domingo, é preciso ir além. Autoridades públicas e dirigentes esportivos também precisam ter suas responsabilidades apuradas. Já se sabe, por exemplo, que a troca de hostilidades entre as torcidas foi favorecida pela inexistência de policiamento militar no local do jogo.
Cerca de 90 agentes de segurança contratados pela diretoria do Atlético-PR --mandante da partida-- ficaram incumbidos de zelar pela integridade física dos 8.978 torcedores pagantes da disputa.
Não foi o suficiente, como se viu. As cenas brutais do confronto foram amplamente divulgadas na imprensa internacional como demonstração da falta de segurança nas praças esportivas do país-sede da Copa do Mundo de 2014.
Na década de 1980, Bill Buford, jornalista americano, imergiu no universo dos hooligans britânicos. De sua experiência resultou o livro "Entre os Vândalos", no qual afirma que a violência apresenta-se à massa de torcedores como um caminho extremamente sedutor.
Apesar da conclusão desoladora, o Reino Unido conseguiu reprimir, na década de 1990, a barbárie nos estádios. Para tanto, foram fundamentais a responsabilização penal dos envolvidos em brigas generalizadas e o seu banimento dos locais de jogos.
Sem que se feche o cerco aos irresponsáveis, não há como dar fim à violência. O Brasil precisa aprender essa lição a tempo de evitar tragédia de maiores proporções.
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