Editorial: Educação acelerada
Está em ebulição o mercado de ensino superior privado, como retratou o novo caderno da série "O Brasil que Dá Certo", publicado segunda-feira (24) na Folha.
O que não fica claro é se essa onda de investimentos e fusões de empresas, além de lucros, vai também incrementar a qualificação dos brasileiros, que ainda patina.
O interesse dos investidores decorre das oportunidades abertas pela rápida expansão. Em 2010, as universidades particulares receberam 1,366 milhão de novas matrículas. Em 2013, o ingresso anual havia alcançado 1,733 milhão –avanço de respeitáveis 27%.
Um dos fatores que contribuíram para esse salto foi, sem dúvida, o crescimento encorpado do crédito educacional subsidiado. O programa Fies, do governo federal, passou de 76,2 mil novos contratos em 2010 para 560 mil em 2013.
O Fies veio atender a demanda reprimida por ensino nas classes de renda mais baixa, mas não tão baixa que as credencie para participar do outro grande programa de inclusão federal, o ProUni.
Tal política, no entanto, parece já esbarrar em um limite superior. De 2012 para 2013, o número de novos ingressantes no ensino superior privado cresceu mais devagar.
Isso quando a proporção de jovens brasileiros de 20 anos cursando universidades ainda se encontra no nível de 18%. Abaixo, portanto, da média dos países mais desenvolvidos (38%) e de países como México (24%) e Argentina (34%).
Há também sério problema de evasão, estimada em 30% nos cursos presenciais e até 80% nos à distância. Diante dessa realidade nos serviços on-line, faz sentido que o governo federal vede a utilização do financiamento subsidiado por alunos neles matriculados.
O ensino à distância configura uma experiência recente, com baixos custos de implantação e operação, o que o torna particularmente interessante para os grandes conglomerados educacionais.
Nada há em princípio contra tais cursos, mas cabe deixar transcorrer mais tempo para que o Ministério da Educação (MEC) os avalie melhor e produza diagnóstico mais claro quanto à sua real qualidade. A alta taxa de evasão faz supor que existam deficiências graves.
Age bem o governo ao investir bilhões em programas como o ProUni e o Fies. Não haverá desenvolvimento sustentado no país se não for sobre o alicerce firme da qualificação da mão de obra, condição indispensável para o aumento da produtividade. Mas é tarefa do MEC cuidar para que a expansão acelerada não redunde em regressão contínua no quesito da qualidade.
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