EDITORIAL
Tragédia no futebol
No domingo passado (3), torcedores do Palmeiras e do Corinthians protagonizaram uma série de episódios de violência e vandalismo antes e depois da partida entre os dois clubes, em São Paulo. Em um dos confrontos, uma pessoa que nem estava envolvida foi morta com um tiro no peito; no total, dezenas ficaram feridas.
Em resposta, o governo paulista anunciou novas medidas de segurança. A principal delas é a determinação de que todos os clássicos disputados no Estado até o fim do ano tenham torcida única.
Como consequência, segundo o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, a Polícia Militar ficará livre do trabalho de escolta das torcidas até o estádio e poderá exercer maior patrulhamento nos dias de jogo.
Pode até ser. A iniciativa, contudo, constitui antes paliativo que solução. Cerca de 80% dos conflitos ligados ao futebol ocorrem longe dos estádios. Foi exatamente o caso dos enfrentamentos entre corintianos e palmeirenses. A briga que resultou em uma morte deu-se a cerca de 30 quilômetros do Pacaembu, local da partida.
Há outro exemplo recente. Em fevereiro, um conflito entre são-paulinos e corintianos bloqueou um trecho do anel viário Magalhães Teixeira, em Valinhos, a cerca de 110 km do estádio, em Itaquera (zona leste de São Paulo).
Tal padrão de violência reclama medidas para prevenção e repressão. Um bom início seria o governo paulista cumprir sua promessa de identificar e punir os mais de 50 delinquentes que se digladiaram no último final de semana.
É urgente romper a inexplicável cultura de impunidade que cerca a violência entre torcedores.
A esse respeito, muito citado -e com razão- o exemplo da Inglaterra, que reduziu enormemente a violência no futebol nos anos 1990, deveria servir de inspiração para as autoridades de todo o país.
Lá, por meio da colaboração dos clubes e do serviço de inteligência da polícia, investiu-se na identificação dos indivíduos violentos, que foram obrigados a comparecer a delegacias nos dias de jogo. São punidos, dessa forma, os verdadeiros vândalos, e não o próprio espetáculo do futebol.
Aqui, desde 2010, 113 pessoas perderam a vida em decorrência da barbárie entre torcidas. Cabe indagar até quando essa trágica rotina será tolerada pelo poder público.
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