Tolerância à Trump
Scott Olson/AFP | ||
Homem protesta contra a morte da ativista Heather Heyer, 32, em Charlottesville, nos EUA |
Diz uma velha máxima que só a experiência não piora com o tempo, mas pelo visto isso não se aplica a Donald Trump. O presidente americano deu novas mostras de inépcia verbal nos últimos dias, e logo em caso que mereceu o epíteto de terrorismo doméstico.
Longas 48 horas transcorreram entre o atropelamento de manifestantes por James Alex Fields Jr., um militante racista, e as primeiras declarações sensatas de Trump. E ele só as fez porque suas primeiras manifestações desencadearam uma tempestade de protestos.
"O racismo é mau", disse, na sua pobre retórica. "E aqueles que causam a violência em seu nome são criminosos e bandidos, incluindo KKK [Ku Klux Klan], os neonazistas, os supremacistas brancos e outros grupos de ódio que são repugnantes a tudo o que apreciamos como americanos."
Em sua primeira reação, ainda no sábado (12) da tragédia em Charlottesville (Virgínia), Trump colhera reações adversas até de republicanos ao culpar, durante um discurso para veteranos, "os vários lados" pela violência que levou à morte de uma mulher.
Suas palavras iniciais foram interpretadas como recusa a condenar os extremistas de direita, que apoiam sua política de restringir a entrada de imigrantes nos Estados Unidos. Ou seja, como uma forma de tolerância com o terror praticado por norte-americanos.
Na tentativa de amenizar a má repercussão, a Casa Branca decidiu emitir no domingo um comunicado condenando "supremacistas brancos" pela violência, mas num texto sem assinatura.
Na segunda-feira foi a vez de o secretário de Justiça, Jeff Sessions, reiterar que Trump condenava, sim, o ataque racista. A essa altura, entretanto, apenas um anúncio de viva voz do presidente poderia estancar a onda de indignação, que somente crescia.
O republicano falou o que tanto se esperava dele, afinal, mas sua prolongada hesitação em condenar conterrâneos homicidas contrasta com a ligeireza com que se pronunciou sobre assuntos tão ou mais graves do que esse.
Não se observou ambiguidade alguma, por exemplo, quando Trump externou, nos últimos dias, suas ameaças belicosas a Kim Jong-un, da Coreia do Norte, e a Nicolás Maduro, da Venezuela.
Não que esses ditadores mereçam condescendência, mas do líder da maior potência militar do planeta se espera algum traquejo diplomático em declarações capazes de exacerbar conflitos.
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