Desafios paulistanos
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Congestionamento em avenidas da zona oeste de São Paulo causado por semáforos quebrados |
Um prefeito que chegou a varrer calçadas vestido de gari decerto não desconhece o valor simbólico de sua presença física na cidade.
É curioso, portanto, que o tucano João Doria venha agora minimizar a importância de suas viagens, cada vez mais frequentes, a outros Estados. "Hoje o mundo é digital. Por aqui [exibindo seu aparelho celular], você acompanha tudo, participa de tudo", disse, entre visitas a Palmas (TO) e Natal (RN).
Admita-se que não seria impossível, em teoria, gerir à distância um município, um Estado ou um país —havendo equipe de confiança à qual delegar tarefas e um programa de diretrizes bem definidas.
Neste último quesito, Doria, estando ou não em São Paulo, ainda carece de respostas para desafios complexos. Afora privações históricas em saúde, educação e transporte coletivo, há que lidar com a queda de arrecadação que estrangulou a já reduzida capacidade de investimento do município.
As receitas sofreram declínio real de 6% no ano passado, devido à recessão, e mal se recuperam neste ano. Em valores corrigidos, evaporaram-se R$ 3 bilhões de um Orçamento engessado por despesas com pessoal, custeio administrativo e encargos da dívida.
Os recursos disponíveis para obras e equipamentos caíram ainda mais com a decisão demagógica de congelar as tarifas de ônibus. Já se esgotou o R$ 1,8 bilhão reservado de início para os subsídios do sistema; até dezembro, ao menos R$ 1,2 bilhão terá de ser retirado de outras áreas para cobrir a elevação da despesa.
Não é por acaso, portanto, que persistem as deficiências de infraestrutura e zeladoria que o tucano tanto promete combater.
De mais vistoso, Doria fez avançar na Câmara Municipal ousados projetos de privatização, que incluem parques, mercados municipais, terminais de ônibus, a gestão do Bilhete Único e o estádio do Pacaembu. A aprovação definitiva das propostas e sua posterior execução serão testes de seus dons de político e gestor, respectivamente.
É cedo, sem dúvida, para a cobrança de resultados; igualmente prematuras são as ambições presidenciais do prefeito de uma cidade notória por aniquilar o prestígio de seus governantes.
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