A orquestra é sua!

Crédito: Gabo Morales/Folhapress SAO PAULO, SP, BRASIL, 12-03-2013: Musicos da OSESP ensaiam com o maestro finlandes Osmo Vanska, na Sala Sao Paulo, 12 de Marco de 2013. (Foto: Gabo Morales/Folhapress, REVISTA) **EXCLUSIVO REVISTA, NAO PUBLICAR SEM AUTORIZA?áAO DA EDITORIA**
Músicos da Osesp ensaiam com o maestro finlandês Osmo Vanska, na Sala São Paulo, em foto de 2013

O ano de 2017 foi emblemático para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Completaram-se 20 anos de sua reestruturação que, nos últimos 12, esteve sob gestão da Fundação Osesp —Organização Social da Cultura— em parceria com o governo de São Paulo, num modelo de gestão bem-sucedido e que mudou o cenário e as possibilidades de participação da sociedade civil na definição de políticas do setor.

Os desafios iniciais incluíam conquistar estabilidade administrativa e financeira, introduzir governança corporativa de excelência e aprimorar o desenvolvimento artístico. A esses se somaram tornar o projeto mais acessível e democrático.

Nesse período, buscaram-se novas formas de relacionamento com a sociedade, por meio de conselhos e comitês, e de parcerias institucionais e comerciais, que hoje contribuem com mais da metade dos recursos necessários para a manutenção das atividades dos corpos artísticos e da Sala São Paulo —marco da arquitetura paulistana que completará 20 anos em 2019 em plena operação, caso raro no Brasil.

Esses organismos se tornaram parte indelével da identidade cultural de São Paulo e dos brasileiros.

Nas áreas de educação e de difusão atendemos 866 mil crianças da rede pública, e cerca de 9.600 professores foram qualificados em programas de formação. Concertos gratuitos e distribuição maciça de conteúdos digitais se tornaram opção de fruição, formando novos públicos para a música clássica.

A parceria com a Secretaria de Cultura permitiu o enfrentamento da atual crise. Desde 2013, apesar de substanciais reduções dos aportes públicos e das dificuldades enfrentadas pelo setor, a Osesp tem mantido sua programação nos níveis de excelência que lhe trouxeram reconhecimento mundial.

Isso foi possível pela redefinição dos planos de trabalho, com metas realistas à luz das restrições orçamentárias —mas sempre preservada a integridade dos corpos artísticos— e à existência de reservas financeiras da fundação, responsavelmente constituídas em anos anteriores. Louve-se o apoio de patrocinadores e doadores privados, sobretudo através da Lei Rouanet, essa eficaz ferramenta de fomento à cultura no país.

Há sinais tênues de recuperação econômica e surgem novas oportunidades de financiamento das atividades culturais. Seriam bem-vindas alterações na regulação do setor que atendam às suas necessidades específicas, sobretudo que facilitem a formação de fundos patrimoniais ("endowments").

A experiência da Fundação Osesp indica que é oportuno prosseguir no aprimoramento do modelo de gestão através de organizações sociais, considerando que as atividades envolvidas demandam planejamento de longo prazo.

Seria desejável conferir maior autonomia, inclusive financeira, para que essas instituições não operem como meros prestadores de serviços –ou braços desburocratizados para execução de politicas públicas– e não permaneçam completamente expostas às vicissitudes do ciclo econômico.

Planejamento e engajamento são indispensáveis na área cultural. Desejamos que o ano que começa permita avanços e incentive maior e efetiva participação da sociedade em uma das principais iniciativas culturais do país. A orquestra é sua!

ANTONIO QUINTELLA, economista, é vice-presidente do Conselho de Administração da Fundação Osesp; sócio-fundador da Canvas Capital, foi presidente do Credit Suisse Americas

MARCELO LOPES, economista, mestre em direito pela FGV, é diretor-executivo da Fundação Osesp

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