Segurança no trânsito é prioridade nacional

Crédito: Helio Torchi/Sigmapress/Folhapress SÃO PAULO, SP, 30.09.2017: ACIDENTE-SP – Fotos captadas com celular – Acidente na Marginal Tietê na madrugada deste sábado (30), deixou 3 (três) pessoas mortas. A colisão aconteceu próximo a Ponte dos Remédios, sentido rodovia Ayrton Senna. Houve uma quarta vítima que foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e está hospitalizada (Foto: Helio Torchi/Sigmapress/Folhapress)
Acidente na marginal do Tietê, em São Paulo, que matou três pessoas em setembro

"O tempo não cura, só ajuda no treino de como conviver com uma dor que não tem nome." Gladys Ajzenberg definiu assim a sensação de perder o filho para um mal que mata 40 mil pessoas por ano no Brasil, mais de cem por dia: desastres no trânsito. Eles estão entre as dez principais causas de morte no país.

Gladys é mãe de Vitor Gurman, jovem atropelado na Vila Madalena, em São Paulo, em 2011. A tragédia voltou à mídia por causa da decisão do Tribunal de Justiça de não levar o caso a júri popular. A acusação mudou de homicídio doloso, no qual se assume o risco de matar, para culposo de trânsito, sem intenção de matar. A motorista é acusada de dirigir alcoolizada, em alta velocidade, e de atingi-lo na calçada.

Para além do desfecho jurídico do caso, seu aspecto central e inapelável continua merecendo a atenção das autoridades e, principalmente, da sociedade: atitudes de risco no trânsito levam a tragédias.

Ainda não amadureceu, em parcela significativa da população, a noção de que casos como o de Vitor não são meros acidentes, mas resultado direto da conduta imprudente dos motoristas. Segundo o Infosiga SP, banco de dados do governo de São Paulo, 94% das ocorrências com mortes são causadas por falha humana, como beber e dirigir.

Inspirado na Década de Ação pela Segurança no Trânsito das Nações Unidas, o governador Geraldo Alckmin lançou em 2015 o Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, do qual o Detran-SP é integrante. O principal objetivo é reduzir à metade as mortes no trânsito do Estado até 2020.

Duas ferramentas criadas para contribuir com essa meta já estão em uso: o Infosiga SP, que contabiliza mensalmente as mortes nos municípios paulistas, com perfil de ocorrência, vítima e frota; e o Infomapa, sistema de georreferenciamento de casos com óbitos.

Convênios foram firmados com 67 cidades com altos índices de mortes no trânsito e serão repassados, pelo Detran-SP, R$ 110 milhões provenientes de multas para projetos de segurança viária.

Mas um dos principais focos do Detran-SP hoje é a educação. Projetos e campanhas são mantidos para reforçar as mensagens sobre comportamentos de risco. Nas redes sociais, o órgão dialoga com a sociedade alertando anônimos e celebridades flagrados cometendo infrações. A ideia não é constranger, mas orientar sobre a importância da atenção máxima ao dirigir.

Com o programa Clube do Bem-te-vi, policiais militares ministram palestras em escolas municipais sobre boas práticas no trânsito para alunos de 6 a 11 anos.

Resultados dos esforços começaram a aparecer nas estatísticas paulistas. De 2015 a 2017, as mortes no trânsito caíram 7,5%. Outras unidades da Federação também implementaram iniciativas interessantes, diga-se, mas, nacionalmente, os avanços permanecem tímidos.

A recente aprovação pela Câmara dos Deputados de um plano nacional é o primeiro passo. De fato, faltava assumir um compromisso envolvendo todo o Brasil. Batizado como Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões de Trânsito, o projeto prevê metas estaduais, com objetivo geral de reduzir à metade o número de óbitos em dez anos. A meta é (e precisa ser) ambiciosa.

Nações que diminuíram seus índices, como Japão, Suécia, Dinamarca e Reino Unido, mantêm planos nacionais, com metas e estratégias de acompanhamento. A Austrália reduziu as mortes no trânsito com medidas direcionadas a grupos de risco mapeados por pesquisas. Desde 1989, o Estado de Victoria exibe comerciais mostrando como pequenos descuidos podem causar tragédias.

Na Alemanha, com seus carrões e autoestradas sem limite de velocidade, a meta é completar um ano inteiro sem mortes no trânsito.

O plano aprovado pelo Congresso é um bom caminho. São Paulo já introduziu ações que se mostraram bem-sucedidas e está disposto a compartilhá-las e a aprender com outras experiências para acelerar o processo de transformação dessa gravíssima realidade.

MAXWELL BORGES DE MOURA VIEIRA, 32, advogado, é diretor-presidente do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo)

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