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Assédio em cena

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Crédito: Paul Drinkwater/Reuters Oprah Winfrey discursa durante a cerimônia do Globo de Ouro, nos Estados Unidos
Oprah Winfrey discursa durante a cerimônia do Globo de Ouro, nos Estados Unidos

Desde sua inauguração, em 1944, a cerimônia de premiação do Globo de Ouro não havia testemunhado manifestação tão insinuante e potente quanto a ocorrida neste domingo (7), quando uma constelação de atrizes e atores do cinema e da TV dos EUA vestiu-se de preto para a festa.

A proposta, como se sabe, tinha por objetivo reforçar a campanha de protestos femininos contra práticas de assédio sexual, em particular no mundo do entretenimento e da comunicação daquele país.

Sintetizado pelos slogans "Time's Up" (o tempo acabou) e "Me Too" (eu também), o movimento ganhou projeção inédita ao longo de 2017, em especial depois que vieram à tona denúncias de dezenas de mulheres contra o produtor de cinema Harvey Weinstein.

Como ironizou o apresentador do evento, Seth Meyers, "foi um ano complicado para ser homem branco em Hollywood".

A ideia dos trajes pretos ganhou a adesão do meio e serviu para reforçar o simbolismo político da noite, pontuada por discursos e referências às relações assimétricas entre homens e mulheres que persistem não apenas no show business mas na sociedade como um todo.

Particularmente engajado, o discurso da apresentadora, atriz e produtora Oprah Winfrey arrancou aplausos e manifestações emocionadas da plateia, chegando a gerar uma onda de apoio a uma hipotética candidatura presidencial.

Negra, bem-sucedida, famosa e politicamente correta, Winfrey –num país hoje governado por um ex-apresentador de programa de TV– não chega a ser um nome implausível, embora ela tenha negado a intenção de concorrer.

Há sem dúvida um efeito simbólico positivo em cena, que ainda terá de se traduzir em situações concretas. Por outro lado, o bem-vindo ânimo de virar uma página histórica e equilibrar as relações entre gêneros não está livre de gerar danos colaterais.

Não é incomum, em momentos de grandes comoções e embates, que se incida no risco de generalizações, mistificações e caça às bruxas. De todo modo, são eventuais exageros e equívocos que o tempo e o bom senso poderão sanar.

editoriais@grupofolha.com.br

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