Superando o 7 a 1 na gestão do futebol

Crédito: Moacyr Lopes Junior/Folhapress BELO HORIZONTE, MG, BRASIL. 08.07.2014. Jogadores da Alemanha comemoram quarto gol em cima do Brasil, no Mineirao, pela Copa do Mundo. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, ESPORTE). ***EXCLUSIVO***
Jogadores da Alemanha comemoram gol no 7 a 1 contra o Brasil, na Copa do Mundo de 2014

No futebol, algumas imagens são tão resistentes que não perdem força mesmo diante dos fatos. A seleção brasileira voltou a encantar a torcida, mas os ecos do 7 a 1 na última Copa do Mundo ainda são ouvidos nas entrevistas do técnico Tite. O assunto também vem à tona sempre que se debate a (falta de) gestão nos clubes.

O cenário se repete quando o tema é o Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro). A iniciativa vem tendo sucesso no aprimoramento da gestão das entidades esportivas, mas as falácias sobre a criação de um Profut 2 ainda geram repercussão. Portanto, é preciso mostrar o que já foi feito.

Primeiro, é importante lembrar que, entre as 137 entidades esportivas inscritas, 40 representam mais de 90% da dívida. Por essa razão, para efeitos do Profut, menos pode ser considerado mais. Essas mesmas entidades já recolheram valores superiores a R$ 230 milhões em tributos, o que reforça o sucesso do programa, jogando por terra os boatos de que os clubes não estão cumprindo suas obrigações.

Esses fatos já seriam um grande indicativo dos acertos do Profut, mas há outros pontos positivos. Pela primeira vez, um órgão de controle externo, a Apfut (Autoridade Pública de Governança do Futebol), tem poder para obrigar clubes que aderiram ao programa a apresentar demonstrações financeiras anuais e trimestrais, além das previsões orçamentárias.

O que em muitos setores é trivial, no âmbito do futebol, com algumas exceções, pode ser visto como novidade.

Como o mercado ainda não se encontra totalmente regulamentado, para melhorar a padronização das informações foi criado um manual de contabilidade específico para as entidades esportivas. Seu processo de elaboração teve a participação dos clubes, de forma a melhor entender suas necessidades, chegando a uma norma específica para o setor, com a chancela dos órgãos de classe competentes.

Atenta à mudança de paradigma, a Apfut entendeu que as contrapartidas exigidas demandariam mudança de mentalidade. Em vez de apenas excluir as entidades, iniciou-se uma conscientização para implementação das alterações, seguindo o devido processo legal.

Esse trabalho, um pouco mais demorado do que a simples exclusão de uma entidade por descumprir contrapartidas legais, não se reduz à punição, mas visa promover uma transição para um modelo de gestão profissional, gerando um legado para o futebol brasileiro.

Está claro que alguns ficarão pelo caminho, como já acontece no processo de fiscalização da Apfut. A título de informação, mais de 10% das entidades que aderiram ao programa foram excluídas por não cumprirem as obrigações.

A boa gestão de um clube não pode ser julgada apenas por conquistas de campeonatos. Controle orçamentário, pagamento de obrigações e salários, busca por novas receitas e responsabilidade fiscal devem coexistir de maneira harmônica nas vitórias e nas derrotas. A sustentabilidade financeira de longo prazo é um gol a ser comemorado.

O Brasil vem passando por profunda transformação sobre os deveres e os objetivos de cada instituição. O futebol, por tudo o que representa para o povo brasileiro, não pode se dar o luxo de ficar de fora dessas mudanças, sob risco de, daqui a 50 anos, ainda nos lembrarmos do 7 a 1 e de tentativas frustradas de salvar os clubes brasileiros por meio do Profut 2, Profut 3, Profut 4...

LUIZ ANDRÉ MELLO, advogado que atua há mais de dez anos no mercado esportivo, é presidente da Apfut (Autoridade Pública de Governança do Futebol)

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