Paixão que não se mede

Crédito: Moacyr Lopes Junior/Folhapress Sao Paulo, SP, Brasil. 26.01.2017. O atual Presidente da Federacao Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos em seu gabinete na sede da Federacao, na Barra Funda. Foto: Moacyr Lopes Junior/ Folhapress
O presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, em seu gabinete

Assistindo aos jogos desta Copa São Paulo, um dos torneios mais queridos do Brasil, me perguntei se é possível medir ou comparar a paixão dos torcedores. Se conseguiria saber se um título foi mais emocionante que outro. No futebol paulista, o mais longevo e tradicional do país, a resposta é não.

É quase um sacrilégio subestimar a paixão de um torcedor por seu time, por mais modestas que sejam as conquistas e ambições. Não há argumentos para se fechar dentro da própria grandeza em detrimento daqueles que não têm a mesma força e visibilidade, mas que são completamente apaixonados em um universo igualmente mágico.

Visite a rua Javari e tente comparar a paixão juventina com qualquer outra; pergunte a um torcedor da Internacional de Limeira se trocaria o título paulista de 1986 por algum outro sonho? E aquela vitória no Come-Fogo, amigo ribeirão-pretano, valeu por um campeonato inteiro? Busque pelas imagens da decisão por pênaltis da Copa Paulista de 2016 e tente comparar a festa da torcida do XV de Piracicaba, que invadiu Araraquara e fez história.

Temos pouco mais de 700 clubes de futebol no Brasil. Multiplique isso por torcedores, atletas, trabalhadores diretos e indiretos. Todos vivem o futebol com fé e paixão. Desses, só 60 clubes têm a garantia de que darão alimento a esse ecossistema do futebol. São os times das séries A, B e C do Brasileiro, que também disputam os Estaduais.

Os demais, cerca de 640 clubes, têm no Estadual seu substrato e seu meio para chegar a torneios nacionais, Copa do Brasil e Série D. Por quais títulos podem sonhar os apaixonados por essas equipes que não fazem parte da elite? Pelo Paulista, Carioca, Baiano, Mineiro, Goiano...

É no interior dos Estados e na periferia do futebol que se forma a base que irriga os principais times do país. Razão que me permite afirmar, sem exageros, que os Estaduais são a história, o futuro e o fomento do futebol brasileiro. Foram neles, também, que nasceram e crescem os grandes clássicos do país.

Nesse cenário, cabe às entidades que administram o futebol dar apoio aos clubes e a seus profissionais e organizar com excelência suas competições. Obviamente, precisamos fazer mais, valorizar esses tão essenciais campeonatos.

Esse é o caminho que buscamos. Assumimos a Federação Paulista de Futebol em 2015 com a proposta de fazer um futebol realmente profissional. Para isso, são essenciais o diálogo, a transparência e a capacitação dos profissionais envolvidos.

Ouvir técnicos, atletas, executivos, médicos, imprensa e os profissionais que fazem o futebol é nosso dever. Foi a partir de encontros com eles que chegamos a um avanço no Campeonato Paulista deste ano: a criação de duas listas de inscritos por clube. Uma com até 26 jogadores e outra com a livre inscrição de atletas das categorias de base. Uma medida que já é adotada nos principais campeonatos do mundo, como a Liga dos Campeões e a Premier League inglesa.

A novidade provoca clubes a planejarem detalhadamente a formação de seu elenco, melhorar a gestão do grupo, comedir gastos e investir na formação de atletas.

Mais que um sonho, é objetivo da FPF semear e manter acesa a paixão de milhões pelo nosso futebol.

REINALDO CARNEIRO BASTOS, 64, empresário, ex-presidente do Esporte Clube Taubaté, é presidente da Federação Paulista de Futebol e membro da CBF no Conselho Executivo da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol)

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