Incorporar a tecnologia ao cotidiano das escolas públicas é um desafio de primeira importância para integrar a educação básica ao contexto da era digital.
Apenas 6% dessas escolas têm internet em velocidade suficiente para uso pelos alunos, segundo a pesquisa TIC Educação de 2017, e mudar esse cenário é fundamental para reduzir as desigualdades entre crianças das redes pública e privada de ensino. O ano de 2018 é de oportunidades para isso.
No fim do ano passado, o Ministério da Educação (MEC) deu passo importante nessa direção ao lançar o programa Educação Conectada, que traz medidas de apoio a iniciativas estaduais e municipais para promover o uso pedagógico da tecnologia.
Planejamento, formação, recursos educacionais e infraestrutura são dimensões contempladas para que professores e alunos possam fazer uso da tecnologia de modo significativo. O lançamento também constitui um primeiro passo relevante para colocar a inovação como prioridade da política educacional.
Para o sucesso dessa iniciativa, é fundamental que sua implementação seja orientada pelo princípio da equidade. Na primeira fase, o MEC pretende oferecer internet rápida a 44,6% dos alunos da educação básica, matriculados em escolas onde haja oferta de velocidade adequada para o uso pedagógico.
O maior desafio, porém, será expandir seu alcance para os demais 55,4% dos alunos, sendo imprescindível uma ação planejada e resiliente rumo à meta de universalização até 2024.
Do mesmo modo, concentrar maiores esforços em redes de ensino menos amparadas e rever as metas de velocidade da conexão a cada dois anos são fundamentais para que a política atinja seus objetivos.
O compromisso de conectar todas as escolas públicas, ademais, não deve recair apenas sobre o MEC. Essa deve ser também uma prioridade de toda a política de expansão do acesso à internet, liderada pelo Ministério da Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC). E a própria expansão das telecomunicações tem muito a ganhar com a prioridade para escolas públicas.
Estimativas do Ipea preveem que universalizar a oferta de internet no Brasil levaria a 6 milhões de novos usuários. Se a expansão da infraestrutura tiver como prioridade ofertar banda larga às escolas públicas, esse número tende a mais que triplicar: estima-se que mais de 18 milhões de alunos estejam hoje em escolas públicas onde não há oferta de conexão de alta velocidade.
Oferecer internet rápida a escolas públicas também significa alcançar a população de baixa renda, e não só quem possa pagar pela contratação do serviço. Quando utilizada para fins pedagógicos, a internet se torna fonte de conhecimento, ferramenta para o exercício da cidadania e para a inclusão social e econômica dos alunos.
Aprendizagem, desenvolvimento profissional para gestores e professores e melhorias na gestão são algumas das possibilidades que a internet oferece para educação, abrindo assim o mais eficiente caminho para a verdadeira inclusão digital.
Para integrar a tecnologia à educação e impulsionar a inclusão digital no país, o momento é de grande oportunidade: o MCTIC está formulando diretrizes para os investimentos em infraestrutura de telecom pelos próximos anos, o que abre uma janela para que escolas públicas sejam postas como prioridade na expansão do acesso à internet.
O decreto em discussão também prevê revisão futura do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), o que pode se alinhar ao objetivo de conectar escolas. Cabe ao governo, em conjunto com a sociedade, aproveitar o contexto e seguir avançando.
DENIS MIZNE é diretor executivo da Fundação Lemann
LÚCIA DELLAGNELO é diretora do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB)
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Subscrevem este artigo:
RONALDO LEMOS, diretor e cofundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade
ÉRICA BUTOW, co-fundadora do Ensina Brasil
HELOISA MOREL, diretora do Instituto Península
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