Descrição de chapéu

As armas de Trump

Proposta da Casa Branca de armar professores em sala de aula beira a ficção

Homem analisa fuzil em feira de armas na Flórida
Homem analisa fuzil em feira de armas na Flórida - Michele Eve Sandberg /AFP

O disparate parece extraído de um roteiro de ficção sem compromisso com a verossimilhança: o presidente da principal potência do planeta, tida como exemplo da democracia moderna, sugere que professores passem a portar armas com o intuito de conter as chacinas que se repetem nas escolas do país. 

Referindo-se ao episódio ocorrido na Flórida no último dia 14, Donald Trump disse que, se um professor tivesse uma arma, o massacre não teria ocorrido —pois “teria atirado e seria o fim de tudo isso”.

A declaração foi feita durante encontro do presidente com pais e estudantes que passaram pela experiência traumática de ataques em instituições de ensino. No caso da Flórida, o autor dos disparos foi um ex-aluno de 19 anos que havia sido expulso da escola por questões disciplinares. Com um fuzil AR-15, ele matou 17 pessoas.  

Para Trump, os massacres nada teriam a ver com o excesso de armas em circulação nos EUA, onde podem ser compradas de modo quase irrestrito. A falha residiria, ao contrário, na ausência de rifles ou pistolas em salas de aula, que propiciassem tiroteios defensivos.

Por absurdo que seja, tal raciocínio chegou a merecer alguma acolhida, embora a maioria tenha aplaudido a declaração de Mark Barden, pai de uma das 26 vítimas do atentado na escola Sandy Hook, em Connecticut, em 2012.

Os professores, disse ele, “já têm responsabilidades suficientes; carregar uma arma para tirar uma vida não deveria ser uma delas”.

Sob o argumento de que a Constituição assegura o direito de posse de armas, Trump defende a indústria do setor, generosa, aliás, em doações eleitorais. Protestos, como os que se verificaram após o massacre, e iniciativas políticas para cercear esse comércio enfrentam um lobby poderoso.

A reunião de Trump com pais e alunos foi uma tentativa de mostrar alguma disposição para o diálogo —o que, como se sabe, não é uma de suas qualidades. Com o objetivo de manter-se fiel ao propósito, o mandatário precisou consultar anotações no encontro.

A “cola”, escrita sobre papel com o timbre da Casa Branca, continha cinco tópicos para lembrá-lo do que deveria dizer. “O que você gostaria que eu soubesse da sua experiência?”, era um deles. “Eu ouço você”, era o último.

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