O Brasil vem enfrentando o maior surto de febre amarela silvestre da nossa série histórica, iniciada na década de 1980. De dezembro de 2016 a maio de 2017, foram confirmados 792 casos e 274 mortes pela doença, principalmente nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Em 2018, o cenário se mantém. De acordo com o boletim mais recente do Ministério da Saúde, de julho 2017 a 6 de fevereiro de 2018 foram 353 episódios confirmados e 98 óbitos. São Paulo lidera as estatísticas.
O quadro é preocupante e demanda mobilização conjunta de diferentes setores da sociedade. O Ministério da Saúde monitora a situação epidemiológica, define áreas em que a vacinação deve ocorrer de forma rotineira e, atualmente, faz o bloqueio do surto por meio da vacinação em massa em regiões de maior risco.
Alguns municípios, inclusive, mobilizam agentes para vacinar os moradores em suas residências.
Antes da explosão de casos, no entanto, a maioria das cidades brasileiras com recomendação de vacinação contra a febre amarela não havia atingido a meta de 95% de cobertura em boa parte delas, o índice era inferior a 50%.
Entre os não vacinados ou com situação vacinal desconhecida destacam-se os homens adultos, os mais afetados pela doença.
Imunizar adultos é um desafio mundial. Exceto quando são noticiadas mortes relacionadas a enfermidades imunopreveníveis, vacinas gratuitas aguardam por eles nas unidades básicas de saúde.
São exemplos: hepatite B e dupla do tipo adulto, para todos; tríplice viral, para menores de 49 anos; febre amarela, nas regiões de vacinação; influenza, para grupos de risco, incluindo gestantes; e tríplice bacteriana do tipo adulto, para gestantes.
Também há outras, oferecidas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais, de acordo com recomendação médica.
Como razões para a baixa procura destacam-se a crença de que vacina é coisa de criança, a pouca informação sobre o calendário de vacinação do adulto e a baixa prescrição médica. A literatura científica e enquetes demonstram que a prescrição é fator primordial para a adesão do paciente.
No entanto, muitos médicos que atendem adultos pouco falam sobre o assunto durante a consulta.
Igualmente importante é facilitar o acesso às salas de vacinação. É necessário ampliar seus horários de funcionamento, eventualmente levar o medicamento a locais não tradicionais e, quem sabe, promover campanhas semelhantes às realizadas para as crianças.
A palavra-chave para mudar esse panorama é educar. Nós, representantes de entidades científicas, devemos atuar para aprimorar o currículo da graduação médica e também o de enfermagem, inserir as imunizações de maneira mais consistente nos congressos de todas as especialidades.
Faz-se urgente intensificar ações de comunicação e de aproximação com todos os brasileiros.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em parceria com sociedades de especialidades médicas e com o Programa Nacional de Imunizações, vem buscando orientar todos os envolvidos no processo de conscientização e vacinação de adultos e idosos, seja por meio de eventos ou de campanhas, como a que incluiu a criação do Família SBIm, único site brasileiro sobre imunizações chancelado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
É tempo de aprender com o presente e buscar soluções para o futuro. O caminho é longo, mas, unidos, conseguiremos superar o desafio.
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