Descrição de chapéu

Jogo de empurra

Há sensação de improviso nas ações voltadas para garantir a segurança no Carnaval

Esquina no centro paulistano em que estudante morreu após levar um choque
Esquina no centro paulistano em que estudante morreu após levar um choque - Eduardo Anizelli/Folhapress

Transformou-se num lamentável jogo de empurra a apuração de responsabilidades pela descarga elétrica que matou Lucas Lacerda da Silva, 22, no domingo (4).

O incidente —o jovem morreu ao encostar em um poste no centro de São Paulo, durante desfile de um bloco de Carnaval— tem sido atribuído à instalação de câmeras de vigilância, de forma irregular, por parte de empresas contratadas pela prefeitura paulistana.

O acordo com a Dream Factory, vencedora da concorrência para gerir o Carnaval de rua, previa o fornecimento de 200 câmeras com o objetivo de monitorar áreas de maior aglomeração. Para instalar os equipamentos, a empresa contratou a GWA Systems.

O prefeito João Doria (PSDB), bem como a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e o Ilume, departamento municipal de iluminação pública, disseram que não houve consulta oficial e que o serviço não tinha o aval da prefeitura.

Por sua vez, o dono da GWA Systems afirma que recebeu autorização verbal da Dream Factory para proceder à instalação.

Após o triste espetáculo de evasivas que se seguiu ao episódio, o caso passou a ser investigado sob sigilo pelos órgãos competentes.

É ainda incerto que o choque fatal tenha sido causado pela instalação das câmeras. Tratando-se de uma cidade na qual semáforos entram em pane elétrica a cada chuva e onde fios viajam de poste em poste, emaranhados ou em quantidades que não raro parecem excessivas, há que considerar um leque mais amplo de possibilidades.

Lembre-se que, em novembro do ano passado, outro jovem, Júlio Lima Santos, 21, morreu num dia de chuva após encostar num poste —sem câmeras de monitoramento— no bairro do Ipiranga.

Qualquer que seja a conclusão do inquérito, fica a sensação de improviso do poder municipal nas ações voltadas para garantir a segurança no Carnaval. Os prazos para planejamento e execução das medidas foram exíguos; a ausência de fiscalização é patente; a prestação de socorros não funcionou.

Ao tratar rapidamente de eximir-se de culpas, Doria deu a impressão de estar mais preocupado com eventuais danos a sua imagem do que em assumir o papel de homem público responsável pela gestão da cidade.

Mesmo que a morte não tenha sido causada por falhas de órgãos ligados à prefeitura, não há como simplesmente lavar as mãos em se tratando de evento cuja supervisão é da alçada do poder municipal.

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