Em 1º de janeiro, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, declarou que "todo o território dos EUA" estaria ao alcance das armas nucleares de seu país. "Sempre tenho um botão nuclear na mesa do meu escritório. E isso é a realidade, não é uma ameaça", completou.
A declaração gerou peremptória reação do presidente americano, Donald Trump, que deixou claro o que todos já sabiam —o poder destrutivo da superpotência é incomparavelmente maior.
Esses ataques verbais, que repetiam as batalhas retóricas travadas entre os dois líderes ao longo de 2017, chegaram a ganhar destaque no noticiário internacional, mas logo entendeu-se que o aspecto mais relevante da fala do norte-coreano residia no aceno ao diálogo com a Coreia do Sul.
A defesa de uma retomada de relações diplomáticas e o desejo de enviar uma delegação à Olimpíada de Inverno promovida pelos vizinhos capitalistas inauguraram uma nova percepção acerca da estratégia de Kim Jong-un.
Até então ele vinha sendo tratado por grande parte de governos e analistas como um tipo insano a ameaçar a paz mundial —o perigoso "rocket man" (homem foguete) em missão suicida, como foi caricaturado por Trump.
Após o discurso, essa imagem começou a mudar. Com interesse em diminuir as tensões e buscar o entendimento pacífico, Seul prontificou-se ao diálogo, "a qualquer momento e em qualquer lugar".
O reencontro aconteceu por meio da reabertura de uma linha de comunicação telefônica na fronteira entre as duas áreas da península, que havia sido fechada pelos norte-coreanos em fevereiro de 2016. Uma conversa de 20 minutos deu início à reaproximação.
A tocante cerimônia de abertura da Olimpíada contou com a participação de representantes dos dois países, sob uma única bandeira, além da visita da irmã de Kim.
É cedo, claro, para saber como os contatos entre os governos irão evoluir. Os EUA, principais fiadores do desenvolvimento e responsáveis pela segurança estratégica da Coreia, não cederão terreno com facilidade. Outros países diretamente interessados nas conversações, como a China, também tentarão exercer influência.
Certo é que a convivência com uma Coreia do Norte detentora de armamento nuclear tornou-se incontornável. As sanções contra Pyongyang não conseguirão reverter essa realidade. O caminho do pragmatismo e da conciliação é o que deve ser trilhado.
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