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Credibilidades em risco

Nova fase da Operação Carne Fraca investiga apenas o setor de aves e, especificamente, a BRF

Carro da Polícia Federal deixa unidade da BRF em Curitiba, no Paraná
Carro da Polícia Federal deixa unidade da BRF em Curitiba, no Paraná - Geraldo Bubniak/Reuters

Deflagrada em março do ano passado, a Operação Carne Fraca produziu alarde imediato, mas em poucos dias ficaram claros os exageros cometidos pela Polícia Federal e a falta de amparo técnico em muitas das suspeitas levantadas contra a produção brasileira de proteína animal.

Por isso, não houve o grande impacto negativo que se temia no mercado e nas exportações do país. Após suspensões temporárias de negócios e pedidos de explicações, os estrangeiros acabaram se dando conta da fragilidade do caso e retornaram às compras.

Agora, a PF volta a pôr credibilidades em risco —incluindo a sua própria— com a nova fase da operação, batizada de Trapaça. Desta vez, investiga-se apenas o setor de aves e, especificamente, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão.

A gigante de alimentos teria mantido a prática de fraudar laudos e informações de produtos para burlar a fiscalização. Agora, não há relatos de pagamento de propina a fiscais ou políticos.

A corrupção se daria entre agentes privados —a empresa e cinco laboratórios teriam agido para ocultar a presença da bactéria salmonela em amostras do processo industrial. O que existe de mais concreto, por ora, são pressões de representantes da BRF para abafar uma denúncia de manipulação, oriunda de queixa trabalhista.

Nada se mostrou, porém, que evidencie a participação do comando da empresa. Foram no mínimo duvidosos, nesse sentido, os elementos a sustentar a prisão temporária de um ex-presidente.

Para a companhia, que também passa por uma crise de gestão, o dano de imagem é grande. A perda inicial de valor de mercado chegou a R$ 5 bilhões; arrisca-se a continuidade dos negócios para os fornecedores nas regiões atingidas. 

A possibilidade de perda de mercados internacionais tampouco pode ser desprezada. União Europeia e Hong Kong já pediram explicações, e outros países devem fazer o mesmo; investidores estrangeiros ameaçam com processos.

As investigações parecem pertinentes e devem continuar. Entretanto a PF, o Ministério Público e a Justiça precisam tratar o caso com menos estardalhaço e senso mais apurado de proporção.

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