Não é de hoje que se clama por uma renovação nos quadros políticos do país. Dizia-se, no pleito municipal de 2012, que era a vez dos novatos na política. O mesmo se repetiu em 2016, com muitos candidatos se autoproclamando de “não políticos”. A campanha deste ano ainda não começou, mas o discurso da renovação já é dominante.
Pensando nos dois partidos em torno dos quais a disputa presidencial se concentrou no período pós-redemocratização, fala-se muito da dependência do PT da figura de Lula e da falta de novas alternativas no PSDB. A cada ciclo eleitoral, os mesmos candidatos aparecem: José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves.
Uma reflexão mais acurada necessita de clareza sobre o que se entende por renovação partidária: ter quadros mais jovens ou atrair novos atores para a vida política?
Se é uma questão geracional, reconheça-se que os partidos produzem novos quadros —e estes ganham destaque nos cenários políticos locais e regionais.
No caso do PT, temos como exemplo os governadores da Bahia, Rui Costa, 55, e do Ceará, Camilo Santana, 49, assim como ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, 55.
No PSDB, por sua vez, há os governadores de Goiás, Marconi Perillo, 55, e do Paraná, Beto Richa, 52.
O mesmo ocorre em partidos de médio porte. Rodrigo Maia tornou-se presidente do DEM antes de completar 40 anos; ACM Neto, o atual presidente da sigla, está cumprindo seu segundo mandato como prefeito de Salvador e só completa 40 anos em 2019.
No PSB, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, uma importante liderança da legenda, tem 45 anos. Márcio França, vice-governador de São Paulo, ainda não chegou aos 55.
Dessa forma, se o problema for geracional, a pergunta que se coloca é: por que os partidos, mesmo tendo importantes nomes regionais mais jovens, não alternam o quadro de lideranças nacionais, ficando presos aos mesmos e velhos nomes?
Uma pista pode ser encontrada em levantamento da consultoria Pulso Público. O estudo mostra que a taxa de renovação dos membros dos diretórios e das executivas nacionais das agremiações brasileiras é, em geral, muito baixa.
Nos últimos dez anos, apenas PR, PT e PTN mudaram mais da metade dos quadros de seus diretórios nacionais; dentre os grandes partidos, apenas PT e PMDB trocaram mais da metade dos membros das executivas nacionais.
São os diretórios e as executivas que definem quais serão os candidatos apresentados pelo partido e como serão distribuídos os recursos dos fundos partidário e eleitoral.
Por outro lado, se o que se entende por renovação for a atração de novos nomes, é preciso ter em conta que a legislação brasileira garante monopólio aos partidos na apresentação de candidatos: qualquer cidadão que queira fazer uma carreira política precisa filiar-se a uma sigla.
Ou seja, terá de lutar contra a mesma barreira que as lideranças locais e regionais enfrentam para crescer dentro das legendas.
Deve-se também ponderar que os constantes escândalos de corrupção e o descrédito da classe política junto à população geram desincentivos para o ingresso na vida política.
Por fim, não bastam boa vontade e competência profissional para ter sucesso. É preciso lidar com as muitas restrições impostas à gestão pública (como forma de proteger o patrimônio público) e a necessidade de formar maiorias e, portanto, fazer concessões, o que pode se mostrar difícil ou frustrante para os novatos bem-intencionados.
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