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Paulo Skaf: Um roubo de R$ 15 bilhões 

É alarmante saber que os R$ 15 bilhões movimentados pelo comércio ilegal poderiam ter criado 90 mil empregos formais em 2017 

Paulo Skaf

O comércio ilegal já movimenta mais de R$ 15 bilhões por ano em São Paulo. O valor diz respeito às mercadorias fruto de contrabando, descaminho, pirataria ou roubo vendidas livremente em nosso estado. 
O número foi revelado pelo Anuário 2017 de Mercados Ilícitos Transnacionais em São Paulo, realizado pelo departamento de segurança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). 

Para chegar a esse resultado, mapeamos nove setores da economia em que o crime organizado se infiltrou nos últimos anos, atuando no roubo, receptação e distribuição de produtos ilícitos: alimentos e bebidas, automotivo, brinquedos, eletrônicos, higiene, medicamentos, químicos, tabaco e vestuário. Em 2010, os mercados ilícitos movimentavam R$ 6,7 bilhões em São Paulo. 

Carregamento de cigarros contrabandeados no bairro Nova Aparecida, na cidade de Campinas (SP)
Carregamento de cigarros contrabandeados no bairro Nova Aparecida, na cidade de Campinas (SP)

Ou seja, apenas nesta década assistimos a um crescimento de mais de 120% nessa atividade criminosa.
É alarmante saber que esses R$ 15 bilhões movimentados por assaltantes e contrabandistas, estivessem na economia formal, poderiam ter criado aproximadamente 90 mil empregos com carteira assinada no ano passado. Isso geraria uma renda extra de R$ 2,5 bilhões. 


Além disso, os governos federal e estadual arrecadariam R$ 6,7 bilhões a mais em impostos. Com esses recursos, seria possível comprar 62.600 novas viaturas de polícia ou custear o funcionamento de 2.740 hospitais ou de 2.711 escolas públicas. Infelizmente, esse dinheiro todo não foi para os trabalhadores, para as empresas, para o governo. Foi para as mãos de criminosos.

Chegamos então ao problema mais grave causado pelos mercados ilícitos. Os roubos, que sustentam boa parte dessa engrenagem, muitas vezes descambam para a violência. Não é raro que um assalto termine com a vítima ferida ou até mesmo assassinada. 

Vejamos o caso do setor automotivo. No mercado ilícito de carros e autopeças circulam R$ 3,5 bilhões ao ano, o que significa quase 3,5% do total do setor legal, um número altíssimo e inaceitável. A taxa de violência associada a esse segmento é de aproximadamente 20%. Ou seja, a cada 10 crimes considerados violentos, 2 deles estão de alguma forma ligados a esse setor. 

Além da violência imediata relacionada aos assaltos, os mercados ilícitos causam outro mal: o fortalecimento da estrutura que sustenta o crime organizado. Com os bilhões de reais resultantes da atividade, os chefes de gangues investem em compra de armas, aluguel de imóveis, pagamento de advogados e suborno a agentes públicos. É tudo de que precisam para aumentar sua influência e seu poder de fogo. 

Quem mais sofre com isso não são as empresas ou os governantes, mas a população das periferias das grandes cidades, obrigada a conviver com o crime em seu cotidiano. Quanto mais dinheiro os criminosos tiverem à disposição, mais força terão para ameaçar pessoas de bem e impor o medo a vastas populações. Asfixiar financeiramente essas quadrilhas precisa ser uma prioridade da segurança pública. 

Esse é o quadro que temos hoje em São Paulo e no Brasil. Quando falamos em crime organizado, não há exagero algum no uso da expressão. Ele está, de fato, organizadíssimo. 

O giro financeiro dos bandidos com os mercados ilícitos chega a bilhões de reais —e isso sem levar em conta o tráfico de drogas, assunto para outra conversa. 

Tal situação corrói a saúde financeira de empresas, uma vez que causa prejuízos ao impor uma concorrência desleal. Assim, impede-se a criação de novos empregos, a arrecadação dos governos despenca e a insegurança do cidadão aumenta.

Sem um posicionamento firme dos governantes, os criminosos continuarão se beneficiando, em detrimento da sociedade que trabalha, paga impostos e cumpre a lei. 

Até quando seguiremos assim?

PAULO SKAF é presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo)

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