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Queda anunciada

Renúncia de Pedro Pablo Kuczynski mostra-se a única via possível para conter agonia política

Pedro Pablo Kuczynski, em Lima, no Peru; presidente apresentou sua renúncia ao cargo
Pedro Pablo Kuczynski, em Lima, no Peru; presidente apresentou sua renúncia ao cargo - Cris Bouroncle - 1°.set.2017/AFP

Nem mesmo os poucos defensores remanescentes de Pedro Pablo Kuczynski, o PPK, acreditavam que ele pudesse ter sobrevida na Presidência do Peru, tamanha sua fragilidade diante de um Congresso dominado pela oposição. Sua renúncia, apresentada nesta quarta (21), mostrou-se a única via possível para conter a agonia política. 

Afinal, caso não saísse por iniciativa própria, o mandatário decerto sucumbiria nesta quinta, quando o Legislativo deve deliberar sobre sua destituiçãoaliás, pela segunda vez em três meses.

Na primeira, em dezembro, ele se salvou da acusação de receber propina da Odebrecht quando ministro da Economia na gestão Alejandro Toledo (2001-2006). 

Contudo, só obteve o número necessário de votos graças à abstenção da ala opositora ligada a Kenji Fujimori, filho do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).

O favor, naturalmente, tinha um preço. Concedeu-se indulto ao ex-mandatário, condenado em 2009 a 25 anos de prisão por corrupção e violação de direitos humanos.

Além de ter representado o descumprimento de uma promessa central de campanha, o perdão acelerou a implosão do governo. PPK perdeu apoio de boa parte de sua já diminuta base parlamentar, provocou a ira da esquerda antifujimorista e, mais grave, se tornou alvo fácil na disputa de poder entre Kenji e sua irmã, Keiko.

Esta perdeu as eleições de 2016 por estreita margem, mas seu partido, o Força Popular, passou a ter amplo controle do Congresso.

A resposta à manobra do irmão que manteve o presidente veio com a divulgação de um vídeo, pelo FP, em que Kenji supostamente oferecia verbas para obras a deputados em troca de votos contra a destituição na sessão desta quinta. A queda passou a ser questão de dias.

Economista com carreira destacada no mercado financeiro, PPK simbolizava novos tempos na política local. Embora ainda não se tenha comprovado algum favorecimento à empresa brasileira, ele deixará aos peruanos más lembranças, seja pela inépcia administrativa ou pela capitulação ao fisiologismo.

Ademais, o país adentra um período de incerteza. Pela lei, assume o primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, de quem se espera que faça algum acordo com a oposição por uma mínima governabilidade. Caso contrário, há o risco de um novo processo de sangramento político.

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