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Quinze anos de um erro

Invasão do Iraque pelos Estados Unidos continua a se provar um equívoco

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Militares americanos se preparam para derrubar estátua de Saddam Hussein em praça em Bagdá, em abril de 2003
Militares americanos se preparam para derrubar estátua de Saddam Hussein em praça em Bagdá, em abril de 2003 - Ramzi Haidar - 9.abr.2003/AFP

O distanciamento temporal permite que determinados eventos históricos ganhem interpretação diversa daquela moldada sob o calor dos acontecimentos; em outros casos, no entanto, apenas se cristaliza a percepção inicial.

Passados 15 anos, que se completaram nesta terça (20), a invasão do Iraque pelos Estados Unidos pertence ao segundo grupo, pois continua a se provar um equívoco — fadado a tal em sua origem.

Quando o então presidente George W. Bush anunciou que pretendia “desarmar o Iraque, libertar seu povo e defender o mundo de um grave perigo”, assimilava-se ainda o 11 de Setembro de 2001. Era preciso reagir a tudo o que aparentava ameaçar os EUA, e o ditador iraquiano Saddam Hussein tornou-se o alvo a ser derrubado.

Sem aval da ONU e amparado por apenas um aliado de peso, o Reino Unido, Bush precisou de pouco mais de um mês para apeá-lo do poder. Sobreveio uma ocupação militar que durou até 2011, acompanhada de decisões que levariam o país árabe a um caos cujos efeitos até hoje subsistem.

Com efeito, a medida mais mal planejada revelou-se o banimento do partido Baath, base de sustentação do regime. No afã de extirpar qualquer vestígio de influência do ditador, os americanos acabaram por dividir politicamente os iraquianos entre sunitas —vertente do islamismo ao qual pertencia Saddam— e xiitas.

Estes, então, viram-se ungidos como os guardiães de um novo Iraque democrático. A eles foi dado o comando, incitando um sentimento sectário que antes não se manifestava. Sunitas passaram a realizar ataques contra a população xiita e o invasor estrangeiro.

Há amplo consenso entre analistas e líderes internacionais de que diversas organizações terroristas floresceram nesse terreno. 

Do marginalizado sunismo iraquiano emergiu, por exemplo, o fundador do Estado Islâmico — milícia que por três anos controlou a segunda maior cidade do país e persiste como uma ameaça ao Ocidente por causa de atentados cometidos sob sua inspiração.

Convém rememorar, ainda, que os argumentos da Casa Branca para justificar a ação militar mostraram-se falsos. Primeiro, as supostas armas de destruição em massa nas mãos de Saddam nunca apareceram. E o próprio governo americano refutaria, depois, um alegado elo entre o ditador e a Al Qaeda.

Por fim, até se pode dizer que o Iraque saiu da tirania para uma frágil democracia. Os demais objetivos de Bush, contudo, estavam mesmo destinados ao fracasso.

editoriais@grupofolha.com.br

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