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Wilson Poit: Privatização transparente

A privatização do autódromo de Interlagos irá propiciar a criação de área verde acessível e a desoneração dos cofres da prefeitura

Privatizar aquilo que pode gerar receita aos cofres públicos para salvar áreas essenciais e deficitárias ainda gera mistificações. 

A Folha publicou no domingo (25) texto em que colunista Elio Gaspari chamava a alienação do autódromo de Interlagos de “privataria”. 

Ao equiparar privatização à pirataria, essa quase palavrão serve apenas para causar confundir, pouco informando os leitores do jornal.

O prefeito de São Paulo, João Doria, durante o Grande Prêmio do Brasil de Formula 1 no autódromo de Interlagos, em São Paulo
O prefeito de São Paulo, João Doria, durante o Grande Prêmio do Brasil de Formula 1 no autódromo de Interlagos, em São Paulo - Greg Salibian/Folhapress

O termo leva a crer que se trata de uma transação pirata, efetuada no mercado paralelo, sem qualidade. A realidade é totalmente diferente. Queremos fazer aquilo que a legislação exige, utilizando o caminho correto, transparente. Ao que parece, faltaram ao colunista informações mais detalhadas.

O eixo de seu texto é uma comparação do destino que se quer dar ao autódromo com aquele que teve o aterro do Flamengo, transformado em parque nos anos 1960. A ideia não se sustenta. O aterro foi uma área criada pelo poder público —não existia e, portanto, não gerava custos. 

A situação do autódromo é bem diversa. Apesar de ser público, tem um uso misto, com destaque para o setor o privado, o que o diferencia muito da área carioca. 

Não é um espaço que está parado, inerte. Os custos do equipamento para a Prefeitura de São Paulo atualmente chegam a R$ 55 milhões por ano. Gerir um autódromo não é —e nem deve ser— missão da administração pública. 

Com a privatização do autódromo, vislumbramos um futuro muito mais democrático para sua área.

A pista de corrida deverá ser preservada, todavia o espaço também abrigará edifícios, inclusive para habitação de interesse social, parque de uso público e outros equipamentos. A meta é levar desenvolvimento para a região de Interlagos.

Trata-se, portanto, não apenas da venda de um ativo mas também da criação de uma área verde acessível ao público e da desoneração dos cofres da prefeitura, que poderá destinar mais recursos para saúde, educação, habitação, assistência social e outras áreas essenciais. 

Além disso, o espaço poderá ser mais bem explorado pela iniciativa privada, a quem caberá a tarefa de apresentar uma série de contrapartidas para a prefeitura. 

O texto do colunista leva a crer que já exista algo pronto e acabado. Não há. Estamos em uma fase inicial do processo de venda do ativo. Ainda é preciso autorização legislativa. Uma consulta pública foi lançada sobre o projeto de Intervenção Urbana Arco Jurubatuba, que inclui o autódromo de Interlagos. 

Alguns parâmetros foram foram apresentados, porém ressaltamos que esse é um procedimento ainda em aberto —ou seja, ainda cabem modificações, alterações pertinentes aos interesses públicos. Não se trata, como insinuou o colunista, de uma iniciativa que avança sem projeto e sem ideia de um parque. 

Estamos, agora, no momento em que a sociedade pode expor suas ideias a respeito da venda de Interlagos e de seu destino futuro. O processo será acompanhado também pelos órgãos de controle, garantindo lisura e transparência.

Tudo para que se possa dar a um ativo público um destino mais inteligente, viável, com benefícios para a cidade. Ao fim e ao cabo, a privatização de Interlagos será um exemplo para outras cidades, assim como os demais projetos do Plano Municipal de Desestatização. 
 

WILSON POIT é secretário de Desestatização na Prefeitura de São Paulo. Recebeu, em 2009, o prêmio Empreendedor do Ano da Ernst & Young

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