Do extenso rol de entraves a distanciar israelenses de palestinos costumam sobressair, por exemplo, a soberania sobre Jerusalém e as colônias judaicas na Cisjordânia. Entretanto nenhum deles expõe de forma tão crua o fosso desse conflito como a faixa de Gaza.
Um protesto convocado na sexta (30) pela facção radical Hamas, que controla o diminuto território, terminou com 16 manifestantes mortos a tiros por militares de Israel ao se aproximarem da fronteira.
As Forças Armadas afirmaram que, dentre as vítimas, dez eram membros do Hamas —considerado terrorista pelos israelenses e por vários países ocidentais— e representavam uma ameaça à população de vilarejos próximos.
Em que pese a necessidade de apurar as circunstâncias do confronto, cumpre dizer que nenhuma das partes demonstra disposição genuína para buscar um nível mínimo de convivência.
O obstáculo mais evidente reside no radicalismo do grupo no comando de Gaza, que não reconhece o direito de Israel existir —pior, não raro seus líderes pregam a destruição do Estado vizinho.
Ainda que se levem em conta restrições impostas pelas autoridades israelenses à entrada de produtos no território, a ineficiência e a corrupção do governo local explicam em boa medida o desemprego acima de 40% e as interrupções nos serviços de água e energia.
Posto tal cenário, o Hamas recorre com frequência ao expediente de incitar a população contra o inimigo externo para desviar o foco dos problemas internos.
O círculo vicioso se completa quando o governo do outro lado atribui ao temor de ataques sua posição resistente, quando não desdenhosa, a buscar o diálogo.
Um ícone dessa retórica dentro do gabinete do premiê Binyamin Netanyahu é o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman. Ao rejeitar pedidos da comunidade internacional para abrir investigação interna sobre episódio na fronteira, disse que a manifestação palestina “não foi o festival de Woodstock”.
Por mais distante que se encontre esse cenário, a melhor solução para a questão israelo-palestina continua a ser a via de dois Estados soberanos —contanto, claro, que ambos aceitem coexistir.
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