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Eduardo Suplicy: Solidariedade ao México e o muro de Trump

No dia em que tivermos renda básica para atender às necessidades vitais de todos nas três Américas, não haverá necessidade de muros

Homem vestido de indígena peruano posa diante de cartaz de boas-vindas da Cúpula das Américas, em Lima
Homem vestido de indígena peruano posa diante de cartaz de boas-vindas da Cúpula das Américas, em Lima - Martín Mejía/Associated Press

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, representará Donald Trump na Cúpula das Américas, em Lima. Ótima oportunidade para uma ação solidária dos Congressos Nacionais e governos das três Américas ao México, no sentido de não se permitir que o governo Trump construa o muro que irá separar os EUA do México, ao longo de toda a fronteira, e de toda a América Latina.

Que essa iniciativa venha a ser abraçada por todas as nações, desde o Canadá até a Argentina.

Trump enviou solicitação ao Congresso de US$ 18 bilhões para a construção do muro. Pediu verba para a contratação de 10 mil agentes imigratórios e outros serviços de tecnologia, totalizando US$ 33 bilhões ao longo de dez anos para ações de segurança na fronteira. Tem o desplante de dizer que o México é quem vai pagar pelo muro. O Congresso dos EUA reluta em aprovar a iniciativa.

Nos países da União Europeia, hoje, as pessoas de quaisquer países podem atravessar as fronteiras sem ter a necessidade de mostrar seus passaportes, podendo escolher livremente onde estudar, trabalhar ou morar. Habitantes dos países do Mercosul e da Unasul já não precisam mais de passaportes para visitar outros países, bastando apenas mostrar a carteira de identidade.

O discurso mais famoso do presidente republicano Ronald Reagan, em 12 de junho de 1987, aconteceu diante do Muro de Berlim, conhecido como o Muro da Vergonha. Em frente ao Portão de Brandemburgo, diante do líder soviético Mikhail Gorbatchov, de outros governantes e de uma multidão, disse Ronald Reagan: "Há um sinal que os soviéticos podem dar que seria inequívoco, que faria avançar dramaticamente a luta pela liberdade e pela paz. Secretário-geral Gorbatchov, se você busca a paz, se você busca a prosperidade para a União Soviética e a Europa Oriental, se você busca a libertação: venha até este portão...derrube este muro!"

Finalmente, em 9 de novembro de 1989, aquele Muro da Vergonha foi derrubado, o que foi festejado por toda a humanidade.

Muito mais sensato será Trump olhar para o bem-sucedido exemplo de seu país, no Alasca, e destine aquele montante de recursos para a formação de um Fundo Permanente das Américas que, dentro de alguns anos, permitirá que do Alasca até a Patagônia possam todas as pessoas, não importa a sua origem, raça, sexo, idade, condição civil ou mesmo socioeconômica, participarmos da riqueza comum das Américas como um direito à cidadania. 

Para isso se tornar realidade, todos os países das Américas devem colaborar com recursos.

Há 36 anos, o Alasca distribui um dividendo anual igual para todos os seus habitantes residentes ali há um ano ou mais. Qual foi a consequência? Em 1980, o Alasca era o mais desigual dos 50 Estados americanos. Hoje, Utah e Alasca são os dois Estados mais igualitários. É suicídio político a qualquer liderança no Alasca propor o fim desse sistema.

Lugares em todo o mundo vêm realizando experiências, debates e implementando a Renda Básica de Cidadania: Macau, Finlândia, Holanda, Ontário (Canadá), Quênia, Namíbia, Stockton (Califórnia), Maricá (Brasil) e outros. O partido Democrata da Califórnia acaba de pôr em sua plataforma a instituição da Renda Básica Universal.

No dia em que tivermos renda básica suficiente para atender às necessidades vitais de todas as pessoas nas três Américas, não haverá necessidade de muros que separem nossos países.

Eduardo Matarazzo Suplicy

Vereador de São Paulo pelo PT, senador de 1991 a janeiro de 2015 e doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA)

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