Descrição de chapéu

Encruzilhada síria

EUA precisam ampliar a pressão sobre Putin para que este imponha a Assad um basta à carnificina

Criança recebem oxigênio por meio de respiradores após suposto ataque com gás venenoso na cidade de Douma, perto de Damasco, na Síria
Criança recebem oxigênio por meio de respiradores após suposto ataque com gás venenoso na cidade de Douma, perto de Damasco, na Síria - Syrian Civil Defense White Helmets/Associated Press

Já se vão sete anos, mais de 500 mil mortos e milhões de refugiados desde a eclosão da guerra civil na Síria. Esse sinistro saldo se deu, em larga medida, pela inação dos principais atores internacionais, em especial os Estados Unidos.

O suposto ataque químico atribuído às forças de Bashar al-Assad contra um bastião de rebeldes, no sábado (7), levou o presidente americano, Donald Trump, a afirmar que os responsáveis pagariam um “alto preço”, inclusive imputando à Rússia parcela de culpa, por apoiar o ditador sírio.

Dado o histórico do conflito, tal promessa deve vir acompanhada, contudo, de cautela e de razoável dose de ceticismo.

Também em abril de 2017, os EUA lançaram 59 mísseis contra uma base aérea síria, em resposta a uma ofensiva do regime contra opositores em que se comprovou o uso de armas químicas.

Acreditava-se que Trump se engajaria em uma solução —ainda que militar— para o conflito. Entretanto nada mais sucedeu àquela imediata reação, e Assad, num cálculo compreensível, sentiu-se desimpedido para continuar a barbárie em curso no seu país.

Convém lembrar que Barack Obama já deixara a Presidência com a mácula de não ter tratado com determinação o conflito sírio, mesmo após ter dito que Damasco havia cruzado uma “linha vermelha” justamente por recorrer a artefatos químicos.

Eis que se desenha de novo um cenário em que o chefe da Casa Branca é posto à prova —num momento em que sinalizava a intenção de se afastar de vez da questão.

Há uma semana, Trump disse que pretendia retirar da Síria os cerca de 2.000 soldados americanos empenhados em um combate paralelo, contra o Estado Islâmico, já bastante enfraquecido. “Vamos sair de lá (...). Deixemos que outros cuidem disso agora”, afirmou.

Não está claro se a imposição dos fatos fez o líder americano mudar de opinião —ao menos ele já cancelou a ida à Cúpula das Américas, no Peru, para se dedicar ao assunto. Mas não bastará repetir a chuva de mísseis. O palco sírio já se comprovou demasiado complexo para crer que uma intervenção pelo poderio bélico seja suficiente.

Tendo como premissa a provável permanência de Assad no poder, os EUA precisam ampliar a pressão sobre Vladimir Putin para que este imponha ao ditador um basta à carnificina como condição para negociar o fim da guerra.

Seja qual for sua opção, Trump obrigou-se a agir; se não o fizer, perderá o já minguado crédito que possui no quadro internacional.

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