Descrição de chapéu

Mais um tijolo no muro

Se levada a cabo, ideia de Trump alimentará a xenofobia e estremecerá relações com o México

O presidente dos EUA, Donald Trump, diante de protótipo de muro em San Diego, na Califórnia
O presidente dos EUA, Donald Trump, diante de protótipo de muro em San Diego, na Califórnia - Mandel Ngan/AFP

Em nova ofensiva contra imigrantes, Donald Trump anunciou nesta terça-feira (3) que militarizará a fronteira com o México até que o seu infame muro seja construído. Se levado a cabo, o intuito alimentará a xenofobia e estremecerá as relações diplomáticas com o vizinho do sul.

A promessa de empregar a Guarda Nacional com tal propósito faz parte de mais um pacote em gestão na Casa Branca. O plano é aumentar as exigências para solicitantes de asilo e retirar direitos de crianças desacompanhadas que entrarem ilegalmente no país. 

Em declarações cheias de associações levianas entre imigrantes e crime, o republicano afirmou que há uma grande caravana de centro-americanos rumo aos EUA, além de ameaçar com o corte da ajuda a Honduras e a revisão do Acordo de Livre Comércio da América do Norte, em retaliação ao México.

Ao contrário do que o destempero de Trump faz parecer, a imigração ilegal está em queda vertiginosa, resultado do bom momento econômico mexicano e do aumento da repressão americana.

No ano passado, 304 mil pessoas foram presas na fronteira, o menor número desde 1971; no pico, registrado em 2000, essa quantidade chegou a 1,6 milhão.

Ao que tudo indica, as diatribes do presidente são um aceno ao seu eleitorado, irritado com a demora na construção do muro a separar os dois países, uma de suas principais promessas de campanha.

Estimada em US$ 25 bilhões (R$ 82,6 bi), a obra ficou fora do Orçamento devido à ausência de acordo com os democratas.

A ameaça de reduzir o auxílio à América Central sugere também que Trump não reconhece o peso dos EUA nos problemas da região.

A violência que força milhares a emigrar todos os anos está diretamente relacionada ao tráfico de cocaína financiado pelo consumo americano. Emparedados, muitos têm de decidir entre permanecer em seus países pobres ou tentar a sorte em território estrangeiro.

Ainda que a presença militar na fronteira tenha precedentes, inclusive no governo Barack Obama, o cálculo do republicano está pouco atrelado a fatos. Trata-se antes de uma alternativa descabida a uma promessa demagógica.

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