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O Rio do medo

Crítico, o quadro desafia o comando da intervenção decretada pelo governo federal

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Policiais durante operação realizada na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro
Policiais durante operação realizada na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes/Reuters

Pesquisa Datafolha em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública dá números aos temores da população carioca no contexto da escalada da criminalidade no estado do Rio.

Nove em cada dez moradores da cidade dizem ter medo de tiroteios, de balas perdidas e de morrer em razão de um assalto. Quase um terço dos entrevistados afirma que já se viu em meio a confrontos armados entre bandidos e polícia, enquanto 39% acreditam que há elevado risco de que venham a vivenciar tal situação.

A aflição com as consequências do aumento do banditismo é generalizada —encontra-se em todas as regiões e classes sociais. Há, contudo, aspectos que sobressaem a depender de determinadas características da população. 

O receio, por exemplo, de ser alvo de violência por parte da Polícia Militar chega a 78% entre os habitantes de favelas —percentual consideravelmente acima dos 66% que manifestam o mesmo temor em outras áreas da capital.

Assimetria semelhante verifica-se de acordo com a cor da pele: 72% dos que se declaram pretos têm medo de serem vítimas da PM, ante 66% dos brancos. Aqueles (80%) temem mais que estes (67%) a possibilidade de que seus filhos sejam presos injustamente.

Note-se que em 2017 registrou-se, em meio a uma onda de assassinatos de policiais, considerável alta do número de mortos pela PM. Oficialmente, 1.124 pessoas perderam a vida desse modo.

O quadro é crítico e desafia o comando da intervenção decretada pelo governo federal em fevereiro.

Num lance arriscado, que comparou a uma “jogada de mestre”, o presidente Michel Temer (MDB) confiou às Forças Armadas a missão de restaurar a confiança no poder público e coibir a violência. “O governo dará respostas duras, firmes e adotará todas as providências necessárias para derrotar o crime organizado e as quadrilhas.”

A tarefa, como vem insistindo esta Folha, oferece riscos, como expor militares ao contágio do narcotráfico. Seria mais adequado, em situações como essa, o uso da Força Nacional de Segurança Pública.

Passados mais de 40 dias de intervenção —e quase três semanas desde o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco (PSOL), sobre o qual ainda pouco ou nada se sabe—, constata-se que nada mudou de forma substancial.

Voltadas às disputas pelo controle do varejo do tráfico nas favelas, as ações do Exército até aqui mostraram-se pouco eficazes.

editoriais@grupofolha.com.br

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