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Renovação à cubana

Saída de cena parcial de Raúl Castro e ascensão de vice geram pouca expectativa de mudança

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Míguel Diáz-Canel, indicado pela Assembleia Nacional para substituir Raúl Castro no comando de Cuba
Míguel Diáz-Canel, indicado pela Assembleia Nacional para substituir Raúl Castro no comando de Cuba - Alejandro Ernesto/Pool/Reuters

Gerações de cubanos sucederam-se sem a perspectiva de que alguém cujo sobrenome não fosse Castro pudesse um dia governar o país. Passados 59 anos, o dia chegou para Miguel Díaz-Canel, que  nesta quarta (18) foi indicado presidente do Conselho de Estado.

Seria lógico concluir, pois, que a ilha se vê diante de um marco. Nem Díaz-Canel, até então primeiro vice-presidente, tinha nascido quando Fidel Castro (1926-2016) instaurou o regime comunista —o novo dirigente completa 58 anos nesta sexta-feira (20).

No entanto, a maioria da população tratou com indiferença a sessão da Assembleia Nacional em que o ditador Raúl Castro, 86, irmão de Fidel, deixou o comando do conselho. Por uma simples razão: o general continua à frente do Partido Comunista, em tese até 2021, e das Forças Armadas.

Num sistema de partido único e no qual os militares controlam mais da metade dos negócios, não restam dúvidas de que o novo líder, conhecido por sua fidelidade ao aparato castrista, responderá ao chefe de sempre.

Persiste, assim, um cenário pouco auspicioso para uma melhora na relação com os EUA, fundamental para a recuperação de uma economia carcomida por décadas de restrição à livre iniciativa.

O processo de reaproximação iniciado por Barack Obama, em 2014, sofreu um retrocesso sob Donald Trump, que dificultou as viagens a passeio à nação caribenha. O fluxo menor de turistas americanos inibiu a abertura de pequenos comércios por particulares, consentida após uma tímida reforma implementada por Raúl Castro.

Há de se levar em conta, ademais, o desinteresse que Trump  tem manifestado por assuntos latinos. Na recente Cúpula das Américas, enviou seu vice, Mike Pence, que conversou com dissidentes dos Castros. A sucessão em Havana, com efeito, não se situa entre as prioridades da Casa Branca.

O perfil discreto de Díaz-Canel não permite especular muito sobre o que fará na condição —ao menos no papel— de governante. Do pouco que se sabe de suas posições, louve-se a defesa de mais acesso à internet para os cubanos; também já intercedeu em favor de um clube voltado ao público LGBT.

Nada disso, porém, faz supor que o ungido tenha em mente, a curto prazo, adotar medidas de abertura política, como o fim das perseguições a opositores.

A parcial saída de cena de Raúl não encerra ainda este longo capítulo da história de Cuba, e talvez nem sua morte venha a significar o imediato ocaso da estrutura vigente de poder. Daí o desânimo de uma sociedade que se acostumou a esperar e esperar por mudanças.

editoriais@grupofolha.com.br

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