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Velho e novo no Paraguai

Relativamente jovem, Abdo representa uma estrutura de poder estabelecida há décadas

O ex-senador Mario Abdo Benítez, eleito presidente do Paraguai
O ex-senador Mario Abdo Benítez, eleito presidente do Paraguai - Mario Valdez/Reuters

O próximo presidente do Paraguai, eleito neste domingo (22), faz parte do que se considera uma nova geração da política local. Ainda que relativamente jovem, Mario Abdo Martínez, 46, representa, na verdade, uma estrutura de poder estabelecida há décadas.

Conservador, contrário ao aborto e ao casamento gay, Abdo era o candidato da Associação Nacional Republicana, mais conhecida como Partido Colorado. Trata-se da sigla que comandou o país em 65 dos últimos 70 anos.

Inclui-se aí a ditadura de Alfredo Stroessner, de 1954 a 1989 —um homem que “fez muito pelo país”, nas palavras do futuro mandatário, que na campanha ressalvou as violações de direitos humanos durante o regime.

A ligação com a era Stroessner vem de família. Os paraguaios chamam o presidente eleito de Marito por ter o mesmo nome do pai, que foi secretário particular do ditador.

Pouco há de louvável, contudo, no legado da hegemonia colorada até a redemocratização. Governantes autoritários e corruptos, em sua maioria, sustentaram-se sob uma economia movida pelo contrabando e pelo tráfico de drogas.

A imagem desse velho Paraguai persiste, mas cumpre atentar para um processo de mudança. Há mais de uma década, o crescimento econômico médio anual tem ficado perto dos 5% —decorrência em boa parte de corte de impostos e de menor burocracia, que atraíram investidores, entre eles agricultores e empresários brasileiros.

Tal bonança, entretanto, ainda não se converteu em melhora expressiva de indicadores sociais em uma das nações mais pobres da América Latina —o próprio presidente em fim de mandato, Horacio Cartes, reconheceu esse fracasso.

Fará bem seu sucessor também em buscar a estabilidade institucional. Realizou-se o sétimo pleito do novo período democrático, mas as turbulências políticas continuam a assombrar.

Convém lembrar a deposição, em 2012, do líder esquerdista Fernando Lugo (único a interromper o histórico domínio do Partido Colorado), por meio de um açodado processo de impeachment.

Há um ano, Cartes fez uma manobra parlamentar para tentar reformar a Constituição, que veta a reeleição. Uma revolta popular terminou com o Congresso parcialmente incendiado, e ele recuou.

O desafio de Marito é fazer do Paraguai um país cada vez menos parecido com o dos tempos de seu pai.

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