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Vicente Assis e Björn Hagemann: A indústria da mobilidade e as cidades do futuro

Certamente veremos transformações de imenso impacto no dia a dia dos cidadãos. Quem sabe não teremos carros voadores até 2030?

Linha de montagem em fábrica da Volkswagen
Linha de montagem em fábrica da Volkswagen - Pedro Danthas - 9.jul.14/Divulgação Volkswagen

Poucas coisas estimulam tanto nosso imaginário quanto pensar em como serão os carros do futuro. Como vamos nos locomover? Viajaremos em carros voadores semelhantes ao que vemos nos filmes de ficção?

Em seu livro “Obrigado pelo Atraso”, o colunista do The New York Times Thomas Friedman apresenta uma metáfora interessante. Se o Fusca de 1971 tivesse evoluído na mesma velocidade do microchip, teríamos atualmente um carro que andaria a 500 mil km/h e custaria cerca de R$ 0,13.

Ainda não chegamos lá, mas já demos grandes passos e devemos evoluir num ritmo mais acelerado nos próximos anos. As projeções apontam que, por volta de 2030, o mundo terá um sistema de transporte totalmente diferente —mas as empresas automotivas precisam começar a se adaptar com mais velocidade desde agora.

Quando olhamos para o setor, observamos quatro megatendências: dos carros compartilhados, conectados, elétricos e autônomos. Essas tendências estão interconectadas e levarão a rupturas no conceito de mobilidade nas cidades, também balizadas por sua densidade populacional e estágio de desenvolvimento econômico e social.

Certamente as áreas metropolitanas podem se beneficiar significativamente com os avanços tecnológicos dos meios de transporte, que devem gerar inúmeros benefícios para a segurança, saúde dos cidadãos e meio ambiente, além de gerar redução de custos para a cidade e para os cidadãos.

A indústria será fortemente impactada por esses avanços. O pool de faturamento automotivo irá crescer e diversificar com os novos serviços, tornando-se um mercado global de aproximadamente US$ 1,5 trilhão em 2030.

O aumento da conectividade nos veículos também promete gerar bilhões: só para ter uma ideia, dados gerados pelos veículos por meio de softwares instalados podem se tornar um mercado adicional estimado em US$ 450 bilhões a US$ 750 bilhões até lá.

Esse caminho exige ainda mais empenho da indústria na busca de soluções que façam sentido. Em geral, os players podem focar suas estratégias futuras em três macrocategorias principais para geração de valor: geração de receitas (receita direta, propaganda direcionada, venda de dados), redução de custos (redução de custos de materiais, de custos para o consumidor, aumento na satisfação do consumidor) e aumento na segurança (como aviso de riscos real-time).

E, sim, a indústria está se movendo para a produção de verdadeiros “computadores sobre rodas” com aplicação de componentes e softwares avançados, de alta tecnologia. Aqui serão levados em consideração fatores como design, sistema operacional, entretenimento, aplicativos e serviços disponíveis.

O efeito econômico desse processo vai impactar também a indústria de autopeças e outros componentes, que também precisam investir cada vez mais tendo em vista essa realidade. É fundamental que os players tradicionais encarem essas mudanças e o desenvolvimento das cidades como oportunidades de desenvolver soluções cada vez mais inovadoras e novas formas de atender às demandas do mercado, aumentando a segurança de motoristas, passageiros e pedestres.

Este é o momento de rever os planos para o futuro e pensar alto. Certamente veremos transformações de imenso impacto no dia a dia dos cidadãos. Quem sabe não teremos carros voadores até 2030?

Vicente Assis

Formado em engenharia civil pela UFMG, é sócio-sênior e líder regional da McKinsey no Brasil

Björn Hagemann

Administrador de empresas, é sócio da McKinsey no Brasil

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