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Alberto Carlos Almeida: Joaquim Barbosa, a queda do rei de espadas

A realidade é que todos esses pré-candidatos estão na área de aquecimento da maratona que terminará dentro de um estádio lotado

A desistência de Joaquim Barbosa da corrida presidencial não foi a primeira nem será a última. Com frequência inédita, certamente provocada pela dificuldade recorrente que é fazer campanha no quinto maior país do mundo e no quarto maior eleitorado, as casas de aposta escolhem uma bola da vez atrás da outra que, no entanto, até agora não foram encaçapadas.

João Doria já foi considerado favorito por muitos analistas. Naquele momento, ele estava furando a tradicional fila da política, querendo pleitear a candidatura ao Planalto antes daquele que o indicou para a prefeitura de São Paulo. Hoje, de volta ao leito natural da política, disputa o governo do estado de São Paulo.

Pedro Parente, presidente da Petrobras, já foi seriamente cogitado, embora totalmente desconhecido do grande público. Luciano Huck, fiando-se somente em sua visibilidade nacional em programas televisivos, se colocou como pré-candidato, e desistiu. Depois se insinuou de novo, e desistiu de novo.

Frequentam as listas de futuras desistências vários nomes. Ao centro e à direita, há candidatos de sobra. O próprio presidente Michel Temer seria candidato à reeleição, e o verbo no condicional se justifica, pois são poucos os que acreditem nisso, dada a sua popularidade, tão baixa como a de certas gramíneas.

Temos ainda Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, que tem na alma a antiga ambição pelo cargo e no currículo o crédito por ter aplacado a recessão.

Ainda nesse espectro ideológico, por assim dizer, a lista segue com Rodrigo Maia, que aparentemente se cacifa para voos em menores altitudes, Aldo Rebelo, Paulo Rabello de Castro, Guilherme Afif Domingos, o reincidente Fernando Collor de Mello e o empresário Flávio Rocha —que, para começar a ser levado a sério, ainda precisa se livrar da pecha de candidato do MBL.

À esquerda, há menos opções: Manuela D'Ávila, do PC do B, e Guilherme Boulos, pelo PSOL. Se quiserem criar capital político para ser sacado no futuro, serão candidatos.

Se quiserem aumentar seu poder de barganha e negociar posições junto à futura candidatura do PT, o que parece mais provável, podem vir a abrir mão da projeção nacional proporcionada por uma candidatura e fazer parte de uma aliança em que seriam mais do que simples coadjuvantes.

A realidade é que todos esses pré-candidatos estão na área de aquecimento da maratona que terminará dentro de um estádio lotado.

Em breve, eles serão convidados a começar a corrida. Mas será que estão dispostos a passar vexame diante da multidão? Alguns já perceberam que não teriam pernas para correr até o fim.

Outros desconfiam que não vão aguentar as muitas pressões de uma prova extenuante, o que inclui vaias e xingamentos da torcida.

Um ou outro pode até ser um bom atleta, mas a maratona presidencial requer um treinamento a que eles não se submeteram. Estão na pista de aquecimento por vaidade pessoal ou para testar seu potencial para outras provas. Mas não devem colocar o número nas costas nem ouvir o tiro de largada.

Uma música de Ivan Lins e Vitor Martins, que ficou famosa na voz de Elis Regina, dizia: "cai o rei de espadas/ cai o rei de ouros/ cai o rei de paus/cai, não fica nada". Não fosse por esse último verso, seria um retrato da campanha eleitoral. Os supostos "reis" foram caindo, é verdade, mas alguém vai ficar.

Quem?

A resposta, se fosse inspirada no título da música, deveria ser endereçada a uma cartomante, não a um cientista político. De qualquer maneira, é possível dizer que a eleição caminha para ter poucos candidatos realmente competitivos, aqueles capazes de mobilizar uma estrutura de campanha que os leve a crescer na intenção de votos, e mantê-la durante o primeiro turno.

A queda do último rei, Joaquim Barbosa, apenas evidencia a dificuldade de outsiders e atletas de fim de semana, que um dia disseram que seriam candidatos a presidente.

Alberto Carlos Almeida

Cientista político e autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record)

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