Descrição de chapéu

O chamado

Maior desafio da campanha de Henrique Meirelles (MDB) será vencer a repulsa do eleitorado pelo governo

Faltando menos de cinco meses para o primeiro turno da disputa presidencial, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) achou um jeito simples de vender sua candidatura. “Chama o Meirelles”, diz o slogan que adotou há três semanas para promover seu nome.


A intenção do ex-ministro é valorizar sua experiência, apresentando-se ao eleitorado como o homem a quem diferentes governos recorreram quando precisaram de alguém para uma missão difícil.


O hoje emedebista presidiu o Banco Central durante os oito anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ajudando a vencer as desconfianças que a chegada do PT ao poder despertou.


Com o impeachment de Dilma Rousseff, foi chamado pelo presidente Michel Temer (MDB) para voltar a Brasília e assumir a Fazenda, encarregado de restaurar o equilíbrio das contas do governo e tirar a economia da recessão.


Na semana passada, Temer voltou a convocá-lo para uma tarefa espinhosa. Anunciou que abandonava a ideia de concorrer à reeleição e apontou o ex-ministro como candidato a sua sucessão.


Meirelles sonha com a Presidência da República há anos e nunca deu passos tão firmes para realizar essa aspiração como agora. Se quiser ver seu nome na urna em outubro, no entanto, precisará conciliar o projeto pessoal com um papel difícil de desempenhar.


Tendo apenas 1% das preferências nas pesquisas, suas chances como postulante parecem remotas. Mas o ex-ministro terá à disposição dois recursos valiosos para transmitir sua mensagem, se o MDB chancelar a indicação de Temer.


A sigla é dona de uma das maiores fatias do tempo que será reservado à propaganda eleitoral na televisão. E Meirelles tem dinheiro para financiar sua campanha, graças ao que acumulou como conselheiro de bancos e empresas privadas.


O maior desafio do ex-ministro será vencer a repulsa que o eleitorado sente pelo governo e pela figura de Temer, o presidente mais impopular desde a redemocratização.


Para o mandatário e seus aliados na cúpula do partido, o ex-ministro parece ter se tornado a última esperança de ter alguém com credibilidade e disposição para defender o governo na disputa eleitoral.
Acossados por escândalos, eles precisam evitar o isolamento e manter influência política. Foi para isso que chamaram Meirelles, e é por esse motivo que a postulação merece ser vista com ceticismo.

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