Descrição de chapéu
indústria juros

Retomada difícil

Resultados da indústria decepcionam no 1º trimestre e levam a previsões mais modestas para o PIB; lado positivo é que inflação e juros devem continuar baixos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Linha de produção de bicicletas da Caloi Norte S.A, em Manaus (AM)
Linha de produção de bicicletas da Caloi Norte S.A, em Manaus (AM) - Marcio Melo/Folhapress

A produção industrial estagnada em março é o mais recente dos indicadores que decepcionaram ao longo do primeiro trimestre —e acentuaram as dúvidas quanto ao ritmo da retomada econômica.

Houve ligeira queda, de 0,1%, em relação a fevereiro. No trimestre, houve crescimento zero ante o período outubro-dezembro. Interrompeu-se, dessa maneira, a sequência de resultados favoráveis iniciada em meados do ano passado, que levou o setor a uma expansão de 2,4% em 2017.

Nas últimas semanas, da mesma forma, outros mercados e atividades mostraram fraqueza. De mais preocupante, a geração de emprego patina nos últimos meses.

Embora haja certa discrepância entre os dados do IBGE, que contemplam o trabalho informal, e os do Ministério do Trabalho, com foco apenas nos postos com carteira assinada, pode-se notar que houve perda de dinamismo. A taxa de desocupação, de 13,1% de janeiro a março, permanece muito alta.

Fatores que impulsionaram o consumo no ano passado —como a queda da inflação, num contexto de dissídios salariais baseados em índices de preços mais altos do passado— não se verificam agora.

Em janeiro de 2017, o salário mínimo foi corrigido em 6,5%, com base na variação do custo de vida nos 12 meses anteriores; nos 12 meses seguintes, o INPC mal passou de 2%. Neste ano, a correção ficou em apenas 1,8%, abaixo da inflação esperada até dezembro.

Pelo lado dos investimentos, a letargia está associada à incerteza eleitoral e à paralisia das obras de infraestrutura, sobretudo na área de transportes, que dificultam a recuperação do setor privado.

Há também restrições de crédito, tendo em vista a inadimplência ainda elevada das empresas, embora a situação das famílias já se mostre melhor —nos últimos anos houve sensível redução do endividamento das pessoas físicas. 

Na soma geral, a expectativa de que a economia pudesse crescer 3% ou mais neste ano ficou comprometida. Com os últimos dados, a maior parte dos analistas hoje espera alta do Produto Interno Bruto mais próxima dos 2,5%. 

Não se trata, até agora, de inversão de tendência, mas de ajuste na velocidade. É algo de certa forma natural depois de uma recessão profunda, tornada ainda mais complexa pelo colapso das finanças públicas, pelo excesso de passivos privados e pela incerteza quanto à continuidade das reformas. 

A sensação persistente de fragilidade também acompanhou por alguns anos a maior parte dos países desenvolvidos, cada qual com suas particularidades, depois da crise financeira de 2008, sem que tivesse havido recaída.

No Brasil, ao menos o horizonte para manutenção de inflação e juros baixos vai se alargando, o que terá impacto positivo ao longo do tempo. A gradual aceleração da atividade ainda parece ser o cenário mais provável, que, no entanto, dependerá das escolhas de política econômica após as eleições.

 
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.