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Roleta iraniana

Rompimento dos EUA condiz com a obstinação de Trump em cumprir promessas a qualquer custo

O presidente americano, Donald Trump, ao anunciar a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã
O presidente americano, Donald Trump, ao anunciar a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã - Jonathan Ernst/Reuters

Causaria surpresa se Donald Trump tomasse outra decisão que não a desta terça-feira (8) em relação ao acordo nuclear firmado com o Irã em 2015. O rompimento dos EUA condiz com a obstinação do presidente em cumprir promessas de campanha, seja qual for o custo.

No discurso em que fez o anúncio, ele voltou a afirmar que o pacto só beneficiava Teerã e jamais deveria ter sido negociado como foi, pois “não trouxe tranquilidade, não trouxe paz nem nunca vai trazer”.

Além do interesse de torpedear o que se consolidou como um legado de seu antecessor, Barack Obama, o republicano sempre criticou o documento por não incluir nenhuma restrição ao programa iraniano de mísseis balísticos.

Também via como concessão excessiva o fim de qualquer limitação sobre a produção de combustível nuclear para uso civil após 2030.

Para o chefe da Casa Branca, não há como se fiar em um país cujo líder supremo, Ali Khamenei, pede “morte à América”. Raciocínio semelhante tem Israel, principal aliado americano no Oriente Médio, que vê o regime dos aiatolás como constante ameaça por pregar a destruição do Estado judeu e financiar milícias radicais na região.

Trata-se, em tese, de argumentos válidos, mas que não diferenciam a retórica anti-Ocidente —cara a segmentos ultraconservadores do Irã— do senso de pragmatismo existente em qualquer negociação diplomática. 

Seguramente há imperfeições no acordo, mas o entendimento a que se chegou naquele momento refletiu o que se mostrava possível fazer para chamar ao diálogo uma nação cujo isolamento constituiria risco ainda maior.

Não por acaso, os demais signatários —os outros quatro membros do Conselho de Segurança da ONU, mais Alemanha e União Europeia— tentam evitar que a reimposição das sanções financeiras de Washington contra Teerã enterre o pacto.

Soa, assim, alvissareira a declaração do presidente iraniano, Hasan Rowhani, de que conversará com esses países para buscar a manutenção dos termos vigentes. Isso vai depender, entretanto, do grau de asfixia a que estará sujeita a economia local, já combalida, com a volta das retaliações dos EUA.

Na hipótese de um impasse, o país persa poderá se ver desimpedido de desenvolver armas atômicas, ao largo de monitoramento internacional. Como disse o presidente francês, Emmanuel Macron, estaria aberta a caixa de Pandora. E todos, não somente Trump, passariam a participar de um jogo aberto a qualquer possibilidade.

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