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Argentina lida outra vez com um fantasma econômico: o temor de escassez de divisas estrangeiras

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O presidente da Argentina, Mauricio Macri, na Casa Rosada
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, na Casa Rosada - Gustavo Garello - 26.abr.18/Associated Press

A Argentina lida outra vez com um tradicional fantasma econômico: o temor de uma escassez de divisas estrangeiras das quais dependem o governo e o setor privado.

Não é que o país vizinho se veja na iminência de enfrentar tal problema. Entretanto o estresse de autoridades e investidores pode ser sentido na rápida desvalorização do peso ante ao dólar, que forçou o banco central a promover um aumento brutal dos juros, de 27,25% para 40% ao ano.

As moedas dos emergentes têm se desvalorizado, e o real brasileiro não constitui exceção. Na Argentina, peculiaridades de hoje e de ontem acentuam o processo.

O déficit nas transações de bens e serviços com o exterior a 4,8% do Produto Interno Bruto ao final de 2017, o maior patamar em vinte anos (cifras acima de 3% tendem a ser consideradas altas).

Também elevado é o rombo orçamentário do governo, do qual cerca de dois terços são financiados por meio de endividamento externo —isso desde a chegada de Maurício Macri ao poder, no final de 2016; antes disso, o país estava praticamente fora do mercado financeiro mundial.

Até o início deste ano, os recursos estrangeiros eram abundantes e relativamente baratos. Mas tensões globais, como o risco de alta mais acelerada de taxas de juros nos Estados Unidos, criaram dúvidas acerca dos ajustes econômicos promovidos por Macri.

A despeito de reformas, incluindo a da Previdência Social, o déficit das contas públicas não caiu o bastante. A inflação baixou de elevadíssimos 40%, em 2016, para ainda muito altos 25% em 2017 —e a desvalorização do peso deve dificultar o processo de queda neste ano.

A situação se torna mais difícil devido ao velho costume dos argentinos, escaldados por tantas crises, de manter parte importante de sua poupança em moeda estrangeira. Nos momentos de incerteza, essa inclinação torna mais agudas as altas do dólar.

A taxa de juros brutal talvez contenha a desvalorização do peso, mas pode limitar o crescimento da economia, que foi de 2,9% no ano passado e, estimava-se, poderia atingir taxa semelhante neste 2018.

Por sua vez, o enfraquecimento da atividade tende a prejudicar a arrecadação e dificultar a redução do déficit público. Existe, pois, o risco de que um círculo vicioso comece a se formar no país vizinho.

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